#365Posts – Como a falácia do 4G está destruindo a web rápida

Você se lembra como era a Internet no início dos anos 2000? Lembra como as coisas eram lentas, e o quão felizes ficávamos quando uma página inteira carregava em menos de trinta segundos?

A principal limitação se dava por conta de os meios de transmissão de dados não permitirem altas velocidades. Durante muito tempo placas faxmodem de 28800bps foram consideradas luxo, e feliz daquele que podia navegar com 100% da capacidade da placa, porque as linhas telefônicas eram precárias.

A despeito de muitos outros problemas, desde custos até o desconforto de ficar com o telefone “escravizado” quando conectado à Internet, a lentidão era um dos piores problemas a se enfrentar, quando elaborando websites, naquela época.

O jeito que se podia dar neste tipo de problema, do ponto de vista do webmaster, era simplificar muito os sites, de forma a reduzir ao máximo possível a quantidade de dados trafegados: foi uma época profícua em imagens de baixa resolução (quem lembra de <lowsrc> dá joinha), em leiautes baseados em “frames” (de forma a que os menus e outras partes fixas do site não precisassem ser recarregados ao trocar de página).

Enquanto as exigências do consumidor aumentavam, e a chamada banda larga não chegava (como a muitas partes ainda não chegou), quem produzia a forma e o conteúdo da web sonhava com o dia em que conteúdos de áudio e vídeo poderiam ser transferidos instantaneamente para os computadores dos visitantes.

Se há dez anos uma página levasse 30s para carregar era considerada rápida; hoje se leva mais de 3s é considerada lenta, e o próprio Google talvez penalize o site por isso (porque prefere dar mais visibilidade aos sites “de alta qualidade”), em função da popularização de velocidades de conexão acima de 10Mbps, podendo chegar em muitos lares ao quíntuplo disso.

Nesta segunda década dos Anos 2000 os “vlogs” se tornaram populares, e as pessoas acham normal assistir a filmes e séries em seus televisores conectados à Internet. As conexões rápidas finalmente facultaram que qualquer um pudesse produzir programas audiovisuais e “transmiti-los” a qualquer um que queira consumir tal conteúdo. Manter sites leves e rápidos tornou-se uma obrigação porque a exigência do consumidor impõe, e não mais porque as redes telefônicas não aguentam trafegar dados com velocidade suficiente.

As conexões móveis (GPRS, EDGE, 3G, 4G, LTE, sei lá o que mais)

Paralelo ao advento das altas velocidades nas conexões “terrestres”, seguiu-se o desenvolvimento das tecnologias móveis, em grande parte graças ao vácuo deixado pela evolução dos telefones celulares.

Hoje, temos conexões 3G que podem exceder facilmente os 15Mbps, e conexões 4G que podem ir facilmente além dos 100Mbps.

Podem. Não quer dizer que vão.

Não é exclusividade do Brasil, mas é aqui que vivo e aqui que sofro com isso: as operadoras de telefonia celular inventaram o tal do “ilimitado com limites”. Todo mundo sabe do que se trata, mas vou repetir: te vendem um plano de dados móveis que é só vantagens, com alta velocidade, e “sem limites”. Só que quando um limite de tráfego mensal for alcançado, alguma coisa ruim vai acontecer, normalmente a diminuição absurda da velocidade de acesso.

Falando em números verdadeiros, posso citar que tenho um plano 3G Max da Claro, com velocidades que oscilam mas ficam na média de 10Mbps (o que é ótimo), porém tenho direito a trafegar apenas 6GB por mês; e isto porque estou numa promoção que me dá tráfego em dobro, o normal é apenas 3GB mensais. Quando esse limite é atingido a velocidade cai para apenas 128kbps.

Isso significa que quando preciso usar o 3G eu fico distante até mesmo da ideia de baixar filmes ou programas (atualizar qualquer coisa só em casa, numa conexão realmente ilimitada), bem como não posso mais ver filmes nem ouvir música, tampouco fazer ligações de áudio e vídeo usando Skype ou FaceTime; além disso sou obrigado a ativar os bloqueadores de anúncio, a fim de economizar no tráfego.

Ano passado estive por um período de seis dias consecutivos utilizando só o 3G para acessar Internet (quase que exclusivamente em função do trabalho). No quinto dia minha velocidade foi cortada para os insuportáveis 128kbps, porque os 6GB de tráfego haviam sido consumidos. 1,2GB por dia, sem acessar vídeos, sem atualizar programas, sem ouvir música. A partir daí fui obrigado a interromper meu passeio, porque não daria mais para usar Internet numa velocidade tão baixa.

No caso do 4G as coisas devem ser ainda piores, pois como a velocidade é de dez a vinte vezes maior, inversamente proporcional será o tempo necessário para que a franquia de tráfego seja alcançada.

E é neste ponto que involuímos e retrocedemos a 1999. Apesar de existir toda essa possibilidade tentadora de usar vídeos, animações, música, e tudo o mais que agrada o consumidor, mas demanda alto tráfego de dados, somos obrigados a pensar nossos sites para serem usados sob condições do século passado, privando os consumidores daquilo que eles querem, e que nos agradaria oferecer.

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1 comentário
  • Régis Soutello Pessolano Responder

    Concordo plenamente!

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