#365Posts – A inexorabilidade do tempo

Uma de minhas cantoras favoritas de todos os tempos é a grega Nana Mouskouri. Agora mesmo eu queria ouvir alguma coisa dela no Rdio, e falhei miseravelmente em encontrar alguma coisa por motivos de: eu não sabia escrever Mouskouri corretamente, e a busca do Rdio é incapaz de fazer uma pesquisa por similaridade.

Aí, como qualquer ser humano normal, recorri ao Google, que além de informar a grafia correta do nome da artista trouxe uma informação que eu não havia sequer pedido: no momento da redação deste parágrafo ela conta já 79 anos de idade.

Honestamente, acho a inexorabilidade (dos efeitos) do tempo uma das coisas mais belas da existência humana.

Recentemente assisti ao filme “O Homem da Terra” (de 2007 — veja a página no IMDB, em Inglês), que conta a história de um professor universitário que inesperadamente se demite e está prestes a mudar de vida, e na festinha de despedida acaba revelando aos colegas uma história acerca de imortalidade. Outros exemplos são os filmes sobre o “Highlander”, e outras histórias sobre asgardianos vivendo entre os humanos, logo imortais entre nós, ou “O Preço do Amanhã” (In Time, 2007, link no IMDB).

Em todos os casos, só de pensar na hipótese da imortalidade do corpo eu tenho uma sensação ruim. Não quereria ser imortal por nada desse mundo. Mesmo que eu não fosse o único a ter o “privilégio”, que este pudesse ser estendido à humanidade inteira (o que levaria o planeta, em poucos anos, a enfrentar problemas gravíssimos de superlotação, o que não vem ao caso agora), que meus entes queridos também não morressem, mesmo que qualquer coisa, eu não suportaria a imortalidade do corpo.

Não que eu busque deliberadamente a morte, mas quando ela chegar para mim será recebida com toda a alegria que me seja possível. Embora eu saiba que ao deixar este corpo pessoas há que sofrerão, estou tranquilo porque a vida segue, e passado o período do luto as pessoas superam a perda.

A única coisa que eu peço, com relação a este assunto, é que eu não me vá antes de minha mãe. Aliás, prometi a ela que farei tudo que estiver ao meu alcance para garantir que ela jamais precise enfrentar a dor de perder um filho — e vou cumprir.

Mas nem é só isso. Também acho que o processo de amadurecer e envelhecer, entre o crescer e morrer, guarda belezas e descobertas que só são possíveis e fazem sentido graças à finitude da vida.

Claro que minhas convicções acerca da imortalidade da alma contribuem para este meu jeito de pensar sobre a morte e os assuntos que a orbitam. Sorte minha.

Que sirvam as últimas palavras deste como um manifesto por um mundo com mais quarentões, cinquentões, hexagenários, septagenários, e além — todo mundo ciente de que a juventude eterna seria uma maldição, a verdadeira bênção é poder, de tempos em tempos, dar um reset nesta loucura toda para, enquanto necessário, entrar em loucuras novas.

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