#365Posts – Pelo amor de Deus: pare de reclamar!
Existe uma palavra em Espanhol de que eu gosto muito, que não sei se tem um equivalente em Português que faça justiça ao seu significado: refunfuñar. Significa resmungar entre dentes, a exemplo do que o Zé Buscapé fazia quando sua cônjuge (não dá pra dizer mulher, já que, segundo me lembro, eles não eram humanos e sim ursos) o mandava buscar lenha, ou fazer qualquer outro serviço.
O camarada que refunfuña é um refunfuñón. E o que você vai ler a seguir é uma carta aberta aos refunfunhões (aportuguesamento que julgo mui pertinente).
Caro Refunfunhão,
Tenho tanta coisa para te dizer que nem sei por onde começar. Teu hábito nocivo, desagradável, asqueroso, de ficar reclamando de tudo o tempo todo, tem tantos aspectos negativos que é difícil escolher o mais importante ou o mais essencial de todos.
Talvez eu devesse começar trazendo à tua consciência a informação de que ninguém no mundo tem obrigação de te servir, de te fazer as vontades, de antecipar teus desejos e caprichos. Muita gente tenta, por empatia natural que todo ser humano saudável tem pelos outros da mesma espécie. Mas tu já consideras um ato de generosidade como demonstração de servilismo, e a partir daí qualquer ocasião em que alguém deixe de te paparicar, tu ligas tua metralhadora de reclamações contra quem estiver por perto.
Tu és um grande filho da puta, Refunfunhão.
Tu desrespeitas as pessoas que te cercam, tu não as vês como seres divinos, tanto quanto tu mesmo. Aliás, tu és tão ingrato que ninguém escapa de teu escárnio, nem mesmo a Divindade. Teus protestos de “por que isso foi acontecer comigo”, “nada dá certo pra mim”, “ó dia, ó céus, ó azar”, e toda sorte de falsa vitimização que cometes contigo mesmo é só uma cortina de fumaça para esconderes o quanto tu és egoísta, cínico e manipulador, não é mesmo?
A ingratidão que te corre nas veias no lugar do sangue é algo do mais terrível, a ponto de fazer qualquer um preferir a ela uma piscina de detritos fecais. Porque ninguém suporta alguém que é incapaz de ver o quão privilegiado é em todos os aspectos da vida. Tu agrides teus amigos e familiares com teu discurso de vítima, pois eles fazem absolutamente tudo ao seu alcance para te ver feliz, e tu és incapaz de reconhecer o esforço deles.
Tu não prestas, Refunfunhão, porque tu finges que é solidão, tristeza e cansaço o que na verdade é teu profundo e inabalável desprezo pelo teu irmão. Não é nem ódio, porque ódio é apenas o amor adoecido. É desprezo, é relegar o outro à condição de não ter valor algum para nada.
É claro que neste momento tu lês estas linhas e dizes a ti mesmo: “ainda bem que não me reconheço em nada disso”. Mas tu sabes que estás mentindo a ti mesmo. Tu sabes que quando vens com tuas queixas insossas, com teus questionamentos vazios, com teu veneno infernal em tuas cínicas reclamações entredentes, tu estás apenas externando o desejo íntimo de aniquilar a existência de quem mais dá de si para ti.
Pelo amor de Deus, Refunfunhão, pare de reclamar!
Se teu trabalho não te agrada, dá um jeito e procura outro que te faça feliz!
Se teu problema é dinheiro, aprende a precisar de menos!
Se o que te aflige são os estudos, então para de fingir que te achas incapaz e admite que tu te achas fodão demais para o que querem que tu faças à guisa de trabalho de conclusão, tese ou seja lá o que for.
Se te afligem dores pelo corpo, deixa de hipocrisia e vai cuidar da tua saúde do jeito que mil médicos já te falaram que precisas fazer. Se não consegues andar, respirar ou foder direito, deixa de frescura e abandona os vícios que tu sabes que te prejudicam.
Se o teu mal é a sociedade, faze tua parte para um mundo mais justo, educa pelo exemplo, trabalha para a construção de um mundo melhor.
Deixa de frescura e de hipocrisia, Refunfunhão.
Porque tu achas que ninguém está vendo essa merda em que tu te meteste, mas na verdade o rei está nu.