O que é uma “alfisina”?

Já faz um tempo recebi um e-mail com uma piadinha que a princípio parece engraçadinha, mas que no fundo encerra uma dose cavalar de preconceito, do qual assumo a parcela que me diz respeito — já explico.

A mensagem perguntava se a pessoa sabia o que é “alfisina”, e no fim, após revelar a imagem abaixo, diz que quem levar o carro lá vai ganhar um “inzame de próstia no carro” caso pague pra regular a “infecção eletrônica”.

Hipocrisia à parte sou obrigado a dizer que dei um risinho besta de canto de boca quando vi, e que também achei engraçadas as vestes da moça que aparece no canto da fotografia.

Entretanto, eu deveria me envergonhar de rir de uma situação dessas, por uma série de motivos, dos quais vou destacar:

  • ninguém tem o direito de debochar de outrem pura e simplesmente por escárnio;
  • menos direito ainda ninguém tem de debochar do trabalho de outrem;
  • embora em situação precária, pelo que se vê na foto, aquele é o trabalho do cara, e por isso mesmo é algo sagrado;
  • não se sabe o contexto em que o objeto da foto está, nem se sabe o histórico das pessoas, as condições socioeconômicas do local; nada que indique que escarnecer da oficina do sujeito traga algum benefício além do “prazer” doentio de tripudiar sobre os mais humildes.

Vale lembrar que um sujeito que provavelmente não teve instrução, que vive em situação precária, deu a cara pra bater e estabeleceu-se como lhe foi possível, fazendo o que — provavelmente — sabe e gosta. A imagem deixa isso claro.

Não é a mesma coisa que indignar-se com gente que tem todas as condições para estudar e fazer diferença de maneira positiva no meio em que vive, e que prefere alienar-se e expressar-se como um orangotango mal adestrado, estuprando o vernáculo com construções do tipo “poko”, “naum”, “kra”, e outras atrocidades. Aliás, a pessoa que enviou o e-mail debochando da “alfisina” retratada acima é justamente um desses ignorantes por livre e espontânea vontade, incapaz de pontuar um texto, ou de interpretar um parágrafo (razão pela qual ele só ri quando vê imagens, desde que devidamente legendadas).

Em vez de debochar acintosamente dos menos favorecidos, que não tiveram a mesma oportunidade de estudar, que vivem de maneira mais simples e menos “glamourosa” do que os pseudointelectuais pensam viver, as pessoas deveriam era estender a mão e tratar de ensinar quem deseja aprender. Todo mundo. Inclusive eu.

Newsletter

Gostou deste conteúdo? Informe seu email e receba gratuitamente todos os novos posts na sua caixa de entrada (será necessário confirmar a inscrição em seguida, verifique sua caixa postal).

Deixe seu comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.