A vingança é uma merda
Sábado à noite, fim do horário de verão, uma hora a mais de fim de semana para curtir, e a televisão está repleta de programas ruins, dentre os quais um filme na Globo que trata do tema mais recorrente em todos os ditos filmes de “ação”: a vingança.
O roteiro deste tipo de filme é repetido à exaustão, mas como o planeta está cheio, repleto, lotado de pessoas viciadas em vingança, elas continuam identificando-se com as histórias e comprando as referidas “obras de arte”.
Índice de Tópicos
Roteiro básico de um filme de vingança
Os filmes de vingança seguem o seguinte esquema, com variações leves:
- Alguma coisa injusta e horrível acontece com o herói ou sua família.
- Ele é o único que sobrevive, e sai à cata daqueles que lhe causaram perdas e consequente sofrimento.
- Ele mata todo mundo.
- No final, ele se vê numa vidinha bem mais ou menos e sem sentido, então resolve ficar com aquela gata que estava o filme inteiro dando mole pra ele, e reconstrói sua vida num paraíso tropical qualquer.
A arte imita a vida
O chavão é batido, surrado, espancado e amplamente violentado de tanto que o usam, mas é fato que as artes dramáticas nasceram para que as pessoas pudessem relativizar seus sentimentos e mazelas para poder compreender melhor suas próprias vidas.
Quando alguém faz um filme igual a tantas centenas de filmes que já foram rodados, contando a mesma história com variações insignificantes, e milhões de pessoas vão ao cinema, locam o filme, vêem na televisão, baixam da Internet, ou o que for, isso só acontece porque estes filmes contam exatamente a vida dessas pessoas.
É raro, contudo, que as pessoas saibam do que ou de quem estão se vingando. Algumas partem para a psicanálise, e a maioria destes foge dos consultórios quando começa a arranhar a verdade por trás de suas motivações.
Mas a arte dramática tem uma incomensurável vantagem sobre a vida real: depois de algumas horas a historinha acaba, enquanto as pessoas seguem, via de regra, perpetuando seus programas irracionais de vingança eterna.
Antecipar o epílogo
Creio que as pessoas poderiam começar a ser um pouco menos burras e interromper suas histórias de vingancinha, partindo direto para o epílogo — aquela parte em que o herói dá uns malhos na gata e vai morar em Bora Bora.
Pular etapas de vingança e ir direto para o bem bom é a coisa mais lógica a fazer, mas como vingativos patológicos (desculpem o pleonasmo) são qualquer coisa menos lógicos, eles preferem perpetuar a ingestão de veneno esperando que outra pessoa morra.
A vingança é uma merda
Enfim, isso tudo é para dizer que a vingança é uma merda. Porque não tem como a pessoa ser feliz enquanto estiver gastando energia tentando fazer outra pessoa infeliz.
E gente infeliz convivendo com outras pessoas é como uma pelotinha de bosta em um copo de água mineral cristalina e fresca: por mais que fiquem quietas e abaixo do radar, todo o ambiente em que elas estiverem estará contaminado, sujo.
Se você tem o pernicioso vício de usar a vingança para dar sentido à sua vida, faça um favor a quem não tem nada a ver com isso: fique longe, muito longe, de quem é mais feliz que você, ou então supere essa palhaçada e vá ser feliz também. Não custa nada.