O Fumante de Copacabana

Nunca sequer pensei em escrever uma peça teatral. Como artista, sou um excelente administrador de sistemas (sou um poeta dos arquivos do /etc). Entretanto, inspiração é uma coisa que ou você aproveita ou você é um otário.

Brindo-os então com o resultado de uma brincadeira que me rendeu muita diversão, uma peça de teatro em um único ato com o título…

O Fumante de Copacabana

Personagens

  • O fumante – homem, meia idade
  • O vizinho – homem, mais jovem
  • Projeção do vizinho – homem
  • A faxineira – mulher

Cenário

O palco representa dois apartamentos, um sobre o outro. Uma escada permite acesso entre os dois níveis. Do lado oposto à porta e à escada há uma janela.

Cena I

Apartamento do andar inferior iluminado. A faxineira termina de arrumar o apartamento, e se despede do patrão. Este senta em uma poltrona próximo à janela e pega um jornal para ler.

Ilumina-se parcialmente o andar superior. O fumante, de pijamas, vai à janela, acende um cigarro e começa a jogar a cinza para a rua. O vizinho do andar de baixo percebe a cinza caindo dentro de sua casa e fica furioso.

O vizinho salta de sua poltrona e sobe as escadas bufando.

Cena II

Ilumina-se o espaço à frente da porta do apartamento do segundo andar. O vizinho do andar de baixo toca a campainha duas vezes, impaciente. O fumante dá mais uma tragada no cigarro, apaga-o na parede do apartamento e joga a guimba pela janela. Dirige-se à porta e atende.

Vizinho com olhar fixo nos olhos do fumante e voz firme: “Escuta aqui. Eu sou teu vizinho do andar de baixo. Você está fumando e jogando as cinzas todas na minha sala. Você não acha que isso é um abuso e uma falta de respeito e educação?”

Fumante: “Sim, acho, mas…”

Vizinho: “Pois eu não quero mais que aconteça isso, de eu ter que ficar limpando cinza do teu cigarro dentro da minha casa, fui bem claro?”

Fumante: “Não vai mais acontecer, e…”

Vizinho: “Acho bom que não aconteça. Passe bem!”

Fumante: “Passe bem…”

O vizinho sai caminhando de costas, lentamente, até a escada, sem desviar o olhar dos olhos do fumante. Ao fim do trajeto ele faz o gesto característico, levando indicador e médio até os olhos, e depois apontando-os na direção do outro.

Cena III

Ilumina-se o espaço diante da porta do apartamento do fumante. Tocando a campainha insistentemente, sem tirar o dedo do interruptor, está um monstro humanoide, cheio de pelos e músculos, dentes de fera, garras de lobisomem.

O fumante apaga o cigarro e joga a guimba num cinzeiro. Abre a porta.

O “monstro” então começa a rugir e gritar, gesticulando sobre o fumante.

Fumante: “Por favor, tenha piedade de mim…”

O “monstro” continua gesticulando e rugindo.

O fumante vai curvando-se sobre os joelhos, em prantos, implorando perdão.

O “monstro” continua a demonstrar ferocidade.

Quando o fumante está em posição fetal, totalmente impotente diante da fera, esta se afasta, e as luzes se apagam.

Cena IV

O fumante está no andar superior, chorando, abraçado aos joelhos.

O vizinho entra em casa, e volta à poltrona e ao jornal.

Então ele pega um maço de cigarros e uma caixa de fósforos. Acende o cigarro. Joga o fósforo em qualquer lugar dentro de casa, e começa a fumar, derrubando a cinza no chão da sala.

Fim

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1 comentário
  • Paulo Cesar Fernandes Responder

    hehehe, qualquer semelhança é mera coincidência com o fato real, rsrsrs gostei da criatividade.

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