Meu número agora é 35

Este post foi programado para ser publicado exatamente no dia 07 de agosto, às 4h 55min. Exatamente 35 anos antes da publicação deste eu respirava pela primeira vez com meus próprios pulmões, ao invés de receber o oxigênio diretamente na corrente sangüínea pelo cordão umbilical.

Não falo sobre isso para que chovam comentários de “feliz aniversário” no Blogue (já chega os scraps no Orkut, de gente que nem lembra que eu existo, mas que graças ao aviso do site vai lá marcar presença). Estou comentando acerca desta efeméride para poder publicar o primeiro e-mail que recebi a esse respeito, com o título “seu número agora é 35”, de autoria de meu amigo Sidnei. Ou melhor, meu Amigo, com A maiúsculo. Impossível guardar algo assim só para mim.

Em tempo: Sid, você há de perdoar as pequenas edições que fiz no seu texto. E obrigado pela lembrança e pela homenagem tão linda.

Janio, meu querido,

Seu primeiro choro foi como contralto ou barítono? Será que você, naquele ano de 1972, mamou o suficiente para dormir tranqüilo após ser expulso da paz do líquido amniótico? E quem foi que escolheu seu nome? Quantos braços te carregaram e quantos narizes cheiraram o suave e encantador odor de um recém-nascido?

Me diga: seu primeiro passo foi incerto ou desafiante? Quem você chamou primeiro: seu pai ou sua mãe? Seus avós queriam empanturrar você com algum reforço de “sustança”? O que te deixou feliz para que você desse seu primeiro sorriso espontâneo? Quantos molhos, comidas e sucos você usou para pintar suas roupas?

Quando você soube diferenciar o A de um Z, ainda tão cedo, qual foi seu maior desafio: ler um palavrão (otorrinolaringologista) ou um palavrão (caralho)? Quando você teve consciência do quão bom é um abraço? Confesse: foi maravilhoso escrever seu próprio nome pela primeira vez, não? Qual foi sua primeira cicatriz: quando você subiu no pé de manga e caiu ou quando alguém te decepcionou pela primeira vez?

Lembra-se dos desejos de ter da juventude? “Quero um Opala quatro canecos!”. “Quero ter um pinto maior que o John Holmes!”. “Quero ser rico e comprar Taquara!”. “Quero que você me aqueça nesse inverno e que tudo o mais vá pro inferno”. E de quando você encontrou forças que não tinha para suportar o tranco da solidão? Lembra-se da alegria de aceitar-se simplesmente sendo?

Você não precisa me contar do que se lembra, nem forçar a memória tentando lembrar de detalhes tão precisos. Só precisa ser, a cada ano, mais feliz. Ter mais eventos para se lembrar, nem que esse evento seja uma macarronada com o pai e a mãe. Beijar e ser beijado com o amor que todo ser vivente merece. E se é um baita clichê desejar boas lembranças no dia que você veio ao mundo, para minha alegria, é porque torna-se inevitável fazermos um balanço (com corda iraniana e assento de imbuia, faz favor!). Não comemoramos mais com bolos e bexigas a nossa caminhada inevitável ao fim, porém não podemos deixar de nos rejubilar com o que vivemos e aprendemos ano após ano.

Feliz aniversário, meu querido e amado amigo. Ficar velho não é tão ruim assim. Beijo, abraço. E algumas batidas de meu coração.

Sidnei.

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