O Perigo do Xis sem Maionese
Imagine, caro leitor, a seguinte situação: quinta-feira à noite, larica em níveis estratosféricos, armários vazios em casa, geladeira na maior fartura de água gelada. O que você faria? Chamaria uma pizza? Comeria sua samambaia? Beberia toda a água da geladeira para enganar o bucho? Eu fui ao xis (siga o link se você não sabe do que se trata).
Veja, caro leitor, como a vida pode ser irônica muitas vezes. Eu jamais poderia imaginar que naquela noite de quinta eu estaria prestes a ter um encontro com a quase-morte (não minha, de outra pessoa).
A noite estava agradável e sentei numa das mesinhas ao ar livre. Fiz meu pedido (um xis cinco queijos e uma coca-cola light) e fiquei observando a fauna que me cercava. Menos de dois minutos após eu ter feito o meu pedido chegou o lanche de uma mulher que estava com um cara, marido talvez, ao meu lado, porém na área coberta. A mulher pegou o xis, levantou o pão e desatou a vociferar impropérios contra o garçom, a casa e toda a categoria dos chapistas de lanchonete: ela queria um xis salada sem maionese, e o dela estava ensopado (foi assim mesmo que ela falou).
É claro que foi a maior correria, naquela balela de que o cliente sempre tem razão a casa providenciou a troca do xis da mulher, que novamente abriu o pão para conferir os ingredientes, mas desta feita ficou satisfeita.
Eu estava tranquilamente comendo o meu xis quando de repente ouço o arrastar de cadeiras ao meu lado, gritaria, ordens de “levanta os braços dela”, e um som gutural para o qual eu não sei produzir a onomatopeia correspondente. Isso tudo não deixava dúvidas: a mulher tinha se engasgado com o xis sem maionese!
Foi, naturalmente, a maior correria. Saiu gente de tudo quanto era canto para acudir a mulher, e eu ali, lambuzado de cheddar e catupiry, imaginando teorias conspiratórias e/ou científicas que explicassem aquele fenômeno.
- Antigamente diziam que se você xingasse o garçom da lanchonete ele cuspiria no seu sanduíche. Creio que hoje seja tudo mais sofisticado, e a tecnologia tenha evoluído a um tipo de alface que causa engasgos, a não ser que esteja na presença de seu antídoto natural, a maionese.
- O chapista que teve de refazer o xis da mulher pode ter usado “o segredo” para vingar-se dela, e ela só não morreu ali mesmo porque o marido dela usou “o segredo” para mantê-la viva.
- A mulher pode ter se assustado quando viu que a lanchonete iria mesmo cobrar dois lanches dela, já que ela desperdiçou completamente o primeiro, o que a fez engolir em seco justamente no instante em que tinha um pedaço de xis sem maionese perto da goela.
- Ela poderia ter um carma a resgatar de uma vida anterior: na Idade Média ela era uma imperatriz (ou um imperador) que condenava os cristãos a mortes horríveis por engasgamento em público, submetendo-os à pior humilhação possível naquela época.
- Tudo pode não ter passado de uma simulação, a vigilância sanitária estaria apenas testando para ver como os estabelecimentos estão preparados para emergências.
- A mulher pode não ter se engasgado realmente, só lembrou que não tinha feito seus alongamentos ainda, e resolveu fazer ali mesmo, enquanto comia xis sem maionese.
- Ela pode ter combinado um flashmob que consistia em todo mundo engasgar-se ao mesmo tempo, mas a galera foi sacana e deixou ela se ferrar sozinha.
- Alienígenas podem ter iniciado um processo de abdução, mas desistiram ao tomar ciência de que a mulher morreria de fome, pois a dieta da nave seria toda à base de maionese.
- Talvez ela participasse de alguma seita que em algum ritual a obrigasse a comer xis sem maionese com os braços erguidos, para purificar-se dos pecados (como o de xingar um prestador de serviço publicamente).
- Talvez nada disso tenha acontecido, e eu apenas tenha tido uma forte alucinação causada pela abstinência de comida.
E você? Qual a sua teoria?
Certamente os alienígenas.