Castração Química: falácia de reaça ignorante
Já faz algum tempo que venho vendo manifestações que considero extremamente ignorantes de reacionários exigindo castração química como punição para criminosos sexuais, como se tal medida fosse resolver de uma vez por todas o problema da violência no Brasil.
Por muito tempo eu evitei de emitir minha opinião porque, afinal, “não sou da área” e por isso minha opinião não teria o mesmo peso que a de um médico, por exemplo. Contudo, tenho visto muita gente falando bosta sobre o assunto, e suas áreas de atuação também nada têm a ver com saúde ou segurança pública, de modos que sinto-me perfeitamente legitimado em minha expressão.
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O que não é castração química
Os reaças em geral são conhecidos por acharem que tudo se resolve à base da opressão, da violência, do assassinato. Assim, fazendo um esforço para imaginar o que eles entendem com seus QIs abaixo da temperatura ambiente, vislumbro que eles concebam a castração química como o cartum abaixo.

A única diferença seria que o médico usaria um tubo de oxigênio ou uma tabela periódica em vez do macete para esmagar os ovos do paciente (que no caso seria um condenado). Sinto muito, reacinhas, mas não é assim. Na verdade a castração química é indolor para o paciente.
Castração química tampouco é lobotomia, ela não produz “zumbis” programados para obedecer (ainda bem, ou aposto que a água que consumimos, o pão que nos alimenta, e toda sorte de produtos vendidos nos supermercados estariam entupidos de elementos químicos).
Aposto que essa informação já faz o interesse pela medida diminuir um bocado.
O que é efetivamente a castração química
O que se chama de “castração química” nada mais é do que o uso de medicamentos que atuam no cérebro do paciente, alterando sua libido e diminuindo o desejo sexual. Em outras palavras, o condenado à castração química só tem que tomar algumas pílulas diariamente e pronto. Eles não sentem dor, nem sofrem humilhação pública (desculpem, reaças, são os fatos).
Por que não funciona
Do jeito que os reaças falam a castração química seria uma responsabilidade do Estado, que deveria fiscalizar e garantir que o condenado se mantivesse fazendo uso dos medicamentos durante toda a condenação, ou “para o resto da vida” (o que terminasse primeiro). Ora, se o Estado é incapaz de garantir que uma presa vá para o endereço informado por ela mesma numa “saidinha” qualquer, como vai conseguir obrigar os criminosos condenados a tomar suas pílulas?
Por outro lado, a castração química pode até aplacar o desejo sexual dos criminosos, mas não resolve a causa real do crime, que é a violência que existe no próprio sujeito. Por mais que os medicamentos sejam capazes de impedir que o sujeito tenha uma ereção, nada impede que ele se utilize de outros meios de obter sua satisfação.
Por exemplo, é sabido que a penetração sexual literal é substituída por outros gestos violentos metafóricos, como o esfaqueamento ou empalamento. Se você souber de um assassino que prefira perfurar suas vítimas saiba que há uma grande probabilidade de ele ser broxa.
Da mesma forma, o orgasmo físico pode ser substituído na mente de um criminoso pelo estrangulamento, levando-o a um outro tipo de clímax (que eu, que não sou assassino, nem imagino como seja) ao literalmente colocar em suas mãos o controle sobre a vida de outra pessoa, ao deixar que o matador sinta a energia e a vida se esvaindo do corpo da vítima.
Mesmo nos países em que a castração química é utilizada como medida de contenção dos impulsos sexuais é sabido que as pessoas não mudam de atitude tampouco mantêm o tratamento depois de passado o prazo previsto pelo judiciário (como a liberdade condicional). E passado um mês da interrupção do uso das drogas os níveis de testosterona já estão normalizados, e o Estado só terá gasto dinheiro com antidepressivos e sistemas de controle ineficientes.
O que funcionaria ou “que lindo seria”
Em minha nada humilde opinião, são muitas coisas que deveriam ser feitas para algum dia a sociedade poder ver-se livre (tanto quanto possível) dos criminosos sexuais. Se não houver uma abordagem sistêmica para o problema ele nunca será sanado (spoiler: nunca será).
Para começar, falemos dessa palhaçada de não se falar de sexo nas escolas. É um tal de “proteger a inocência das crianças” sendo usado para perpetrar uma cultura (que os reaças negam existir) de desrespeito às minorias e à mulher, principalmente. Esse papo de não se poder falar de gênero porque “ofende a fé” dos hipócritas é extremamente pernicioso, pois faz perpetuar absurdos como homens que acham que as mulheres têm obrigação de não fazer sexo até se casarem, ao mesmo tempo que os autoriza a estuprar e obter sexo à força caso desejem mas a mulher não.
Precisaríamos também de punições exemplares para todo tipo de crime, não só os sexuais. Os tais “foros privilegiados” deveriam deixar de existir, e cada um deveria ser julgado com rigor compatível com a extensão de seus delitos. E os presídios não podem ser meros depósitos de gente, mas sim ambientes que propiciem a real reforma para os que podem e querem ser reabilitados, ou a punição completa e total para os casos perdidos.
Isso implicaria a necessidade de forças policiais bem remuneradas e aparelhadas, com profissionais realmente capacitados a lidar com todo tipo de gente (em vez de nivelar por baixo, como se todo mundo fosse bandido apenas por causa da sua aparência ou da vizinhança em que mora). Isso já ajudaria muito a derrubar a prática falida de confundir agressor e vítima, ou de desmerecer a vítima de um crime por causa de outros fatos não relacionados ao fato. Seria o primeiro passo para acabar com o meme do “se estivesse em casa não teria acontecido”.
Por fim, para tudo isso funcionar, seria necessário que passássemos a eleger políticos intelectualmente honestos e capacitados em vez dos membros de quadrilha que nos habituamos a levar ao poder para nos representar. Seria necessário haver legisladores sérios e que não se deixassem seduzir por discursos populistas do tipo “bandido bom é bandido morto”, que só fazem sentido para quem prefere não ter de pensar, prefere que todo e qualquer raciocínio lhes seja enfiado goela abaixo como quem soca milho com um pilão para fazer fubá (oi, reaças).
O que é possível

Tanto no que diz respeito aos crimes sexuais quanto a qualquer outro aspecto evolutivo na humanidade só vejo uma possibilidade real e viável. Trata-se do que comumente se chama de “trabalho de formiguinha”: fazer o que for possível num dado momento, da melhor maneira possível, confiando que os que forem diretamente afetados por este trabalho poderão aprender, melhorar, e passar a fazer trabalho de formiguinha também.
Em outras palavras, depende de cada um fazer o que lhe é possível, sem sucumbir aos argumentos rasos que visam meramente manter o status quo atual inalterado, até mesmo livre de qualquer tipo de raciocínio.
Se as escolas não podem levar assuntos relativos a gênero para a sala de aula porque pais hipócritas e imbecis se ofendem com isso, cabe a nós, como pais, tios, amigos, encontrar o melhor meio de educar nossas crianças a serem melhores do que seus pais, melhores do que nós mesmos.
Se não podemos combater a corrupção generalizada, que ensinemos pelo exemplo e sejamos nós mesmos incorruptíveis.
Não sejamos hipócritas.
Afinal, todos sabemos que toda agressão na verdade é um pedido de amor (se não sabia fique sabendo). E a única maneira de sair do ódio é reconhecendo que cada pessoa é absolutamente igual à outra em seus direitos e deveres. E muitas vezes amar uma pessoa implica aplicar a punição necessária e adequada (não a mais, não a menos).