Eu detesto falar ao telefone
Sei que não sou o único, mas haja vista a quantidade de gente que não nos compreende — os que usam telefones como computadores realmente portáteis e não um dispositivo para conversar com os outros — faz-se necessário um desabafo na forma de nota de esclarecimento.
Em resumo, o principal motivo pelo qual eu detesto o conceito de telefonema em si é a invasão que representa para quem tem suas atividades, seu raciocínio, seu lazer, sua masturbação mental ou não, interrompidos por uma campainha de telefone com alguém do outro lado demandando atenção.
Como dizia um amigo que já se foi deste mundo podre, o telefone é a maior ferramenta de furar fila que já inventaram. Porque se eu estiver conversando com uma pessoa, pessoalmente ou por escrito, tenho de dar minha máxima atenção a ela; mas aí vem um telefonema para quebrar este acordo de cavalheiros, vem roubar a dedicação que eu deveria estar dando à pessoa na minha frente (ou cujo texto estou lendo e/ou respondendo). É inadmissível.
Isso não significa que eu nunca atenda ao telefone tocando. Se for uma pessoa realmente próxima eu atendo, porque as pessoas realmente próximas sabem que só devem me telefonar em situações extremas. É a mesma coisa de aparecer na minha casa sem avisar que está indo. As pessoas que me conhecem sabem que precisam combinar comigo antes ou vão dar de cara na porta — mesmo que eu esteja em casa dificilmente sairei de onde estou para verificar por que tocam a campainha.
A situação fica ainda mais crítica quando a pessoa quer telefonar para propor algum tipo de negócio.
Sou da opinião de que se uma ideia pode ser expressa por palavras então ela pode perfeitamente ser exposta por escrito. Se a ideia precisa de imagens para ser transmitida, é para isso que existem as câmeras dos telefones modernos, bem como outros dispositivos de digitalização que tornam totalmente desnecessário que eu pare o que estiver fazendo para dar atenção a uma proposta que, vejam só, não vai ter nenhum registro escrito posterior caso eu queira revisar algum ponto.
É claro que os defensores do telefonema para qualquer coisa vão procurar argumentos falaciosos para se justificar, tiranizando aqueles que como eu preferem o texto. O principal argumento é de que eles querem a “emoção” do interlocutor, querem ouvir a voz, etc. De minha parte só posso dizer que, a menos que a pessoa e eu estejamos namorando, a última coisa que eu quero é qualquer tipo de emoção influenciando respostas e decisões que devem ser absolutamente racionais.
Não que eu seja um monstro insensível, bem ao contrário. Cansei de ser passado para trás por cair em chantagens baratas de gente que usa a suposta situação dos filhos para me comover e obter algum tipo de vantagem; de gente que não tem nada a oferecer em uma proposta comercial, mas viola um espaço de confiança comigo ao usar de argumentos meramente emocionais para me fazer aceitar alguma coisa em que qualquer mente minimamente racional enxergaria o engodo logo de cara.
Assim, da próxima vez que eu recusar um telefonema seu considere que é meu direito preferir o que é melhor para mim. Até porque se eu tiver que tratar de negócios por qualquer meio que não inclua uma descrição textual do que estiver sendo proposto eu vou pensar é que a pessoa do outro lado está querendo me engambelar, ou usar truques bestas para desviar minha atenção do que é necessário, o que me leva a um espaço de — para usar um eufemismo — ódio profundo. E ninguém vai querer interagir comigo assim, nem mesmo eu.
Com o perdão da palavra: Puta que pariu! Me identifiquei demais! Como é bom saber que existem pessoas que tem a mesma esquisitice que a nossa! Nos faz sentir menos ETs! Hahaha Para mim, depois que inventaram os e-mals poderiam ter deixado o telefone só para ligar para o 190! Já perdi até clientes por conta dessa necessidade que algumas pessoas tem de ouvir a voz do outro lado da linha, já pensei em fazer uma terapia para ver se melhoro isso, mas não deixo de achar extremamente desnecessário esse tal de telefonar, e muito desnecessário! Fazia bastante tempo que não visitava seus domínios, a séculos atrás trocávamos algumas idéias sobre servidores, quando ainda trabalhava com hospedagem compartilhada, lá se vão alguns bons anos, certamente não se lembra, mas foi bom passar por aqui, dei boas risadas! Abraço!
Desculpe, Gustavo, mas não estou mesmo associando você a nenhuma memória. 🙁
Quanto a fazer terapia para superar a ojeriza por telefone: não faça. Não é justo que a gente tenha que se adaptar a “eles”, que nos ditem do que devemos gostar ou não. Se vier a te causar problemas aí é outra coisa, mas só para agradar essa gente cuzona que não sabe se expressar por escrito não vale a pena mesmo.