Como — não — superar um bloqueio criativo
Houve um tempo antes de as redes sociais tomarem conta de todo o espectro de interesse das pessoas, quando os blogs eram a principal ferramenta de manifestação do pensamento e das opiniões na Internet. Sou um pouco saudosista daquela época (tanto que não abro mão dos meus muitos blogs, embora a atualização deles seja bem menos frequente hoje em dia) porque os blogs exigiam que as pessoas tivessem um pouco mais de cuidado ao preparar seu conteúdo, sem as facilidades de apenas “reblogar” ou compartilhar adiante o que outro escreveu, sem precisar nem pensar sobre o assunto.
Como todo mundo, eu “tinha” uma cota de posts diários para escrever em um prazo bem curto. Normalmente eram duas ou três horas diárias, fora do horário de trabalho, para atualizar diversos blogs, fora os posts de convidado que adorávamos escrever para os nossos amigos. “Tinha”, entre aspas, porque na verdade nunca levei isso muito a sério, mas escrever era uma atividade que me dava — e ainda dá — bastante prazer.
Normalmente o blogueiro escreve crônicas, havendo pouca variação sobre uma característica essencial de escrever sobre o que está pensando ou sentindo no momento.
Eu queria aproveitar as últimas horas do domingo (ou, tecnicamente, as primeiras da segunda-feira) para escrever alguma coisinha nova para alimentar este blog, mas os assuntos que estavam mais fresquinhos na cabeça não me davam vontade:
- As mentiras sem fim do asno-ídolo das multidões;
- A falta de empatia e de alteridade das pessoas que podendo fazer isolamento social preferem dar rolezinhos, frequentar praias e parques de diversão, como se a ameaça da COVID-19 já tivesse passado;
- a quantidade de pessoas próximas que perderam suas vidas para a doença, pessoas para o asno e seus imbecis são apenas números, mas para mim são pessoas queridas;
- a total falta de esperança em um futuro melhor para mim ou para qualquer outra pessoa que não seja podre de rica no Brasil, e quanto mais pobre pior.

Como o que eu tinha “fresco” na cabeça para escrever não me agradava, resolvi usar uma técnica (eufemismo para mania, me deixa) que usava quando a inspiração faltava e eu “precisava” cumprir cota: abrir o Tweeter, o Facebook ou o Google Reader (saudades, inclusive) e escrever sobre o primeiro assunto que aparecesse.
Foi assim que travei muitas conversas ótimas com outros blogueiros. Muitos me fizeram melhorar como pessoa, me fizeram mudar de ideia sobre assuntos sobre que eu insistia em opinar sem saber nem a diferença de alhos e bugalhos.
Mas não deu certo dessa vez. Os assuntos que continuaram aparecendo aos borbotões nas minhas redes sociais eram sempre os mesmos que já não me agradavam antes.
Seja como for, este post está publicado. Talvez a mania não seja assim tão inútil.