Combatendo a comunicação fascista: a prática

Quando escrevi a crônica sobre como enfrentar a estratégia de comunicação da extrema-direita, recebi muitos feedbacks de amigos, de conhecidos e de gente totalmente aleatória. A maioria dos comentários foi bacana, elogiosa, ou de gente finalmente começando a entender por que gente asquerosa, criminosa, mais suja que pau de galinheiro, foi alçada aos postos mais importantes da política nacional. Mas também houve quem me acusasse de fomentar o ódio contra a direita, ameaçando me denunciar para a polícia do pensamento ou coisa parecida (clique [minicta url=’https://amzn.to/3gZ3fUx’]aqui[/minicta] se não captou a referência).

Um dos comentários que fizeram diz respeito ao conceito repetido feito mantra pelas esquerdas cirandeiras, que ainda não se deram conta do quão feroz é a batalha pela conquista do voto do eleitor infiel: “não são 60 milhões de fascistas.”

Após meditar um pouco cheguei à conclusão que realmente não são fascistas todos que votaram no candidato abertamente fascista e apoiador da morte. É provável que sejam pessoas apenas cansadas de apanhar da vida, de ser passadas para trás, de ser invisíveis para a sociedade, de não ter garantidos seus direitos mais básicos à vida e à alimentação, por exemplo.

Traçar estratégia

A primeira coisa que as esquerdas todas precisam aprender já com a extrema-direita é que tudo se trata de estratégia. Não adianta pulverizar energia física e outros recursos em ações individuais; é necessário organizar os esforços e unificar todas as direitas em uma só, e ainda sabendo que o inimigo é forte demais, muito mais organizado e coeso do que essa pretensa e nem sei se possível esquerda.

As esquerdas cirandeiras

Alguém precisa assumir o papel de liderança destas esquerdas que rodopiam feito [minicta url=’https://amzn.to/2PUUfnC’]piões,[/minicta] sem sair do lugar, produzindo calor e zumbido apenas. E esta é uma tarefa fácil para quem tenha características genuínas de liderança, pois as esquerdas estão acéfalas, principalmente o maior partido de esquerda do Brasil, preso na espera sobre o retorno ou não de Lula à vida política.

Se você é uma pessoa pública, gosta de envolver-se com política e acredita que um líder forte pode unificar as esquerdas para as próximas batalhas, assuma essa liderança em seu âmbito de atuação e vá expandindo. Talvez a peça que falta para fazer essa máquina política andar corretamente seja você. Mas não espere que outro tome para si a responsabilidade, pois isso não vai acontecer.

Conhecer o alvo

Uma vez que as esquerdas unifiquem seus propósitos e discursos, e estejam todas agindo sob a batuta de um líder amplamente aceito, é conhecer seu público alvo.

Nas aulas de publicidade e propaganda é possível inventar-se uma “persona” para fazer os exercícios e concluir o semestre com nota boa. Na prática, contudo, é preciso conhecer profundamente as pessoas. É necessário encampar toda pesquisa para entender todos os aspectos dos eleitores que se desejam conquistar, tais como:

  • Seus medos;
  • seus sonhos;
  • suas mágoas;
  • suas queixas;
  • as dificuldades por que passam;
  • seus hábitos de consumo;
  • seus hábitos de lazer;
  • seus valores morais.

É claro que estamos falando de um universo potencial de pelo menos metade da população — do município, do estado ou do país — e isso implica uma grande variedade de “personas” diferentes, ou uma “persona” muito genérica.

Então, é necessário aplicar mais e mais filtros, processar mais e mais os dados demográficos para segmentar em tantos grupos quantos necessários a uma eficiente comunicação com cada um deles.

Adaptar o discurso

Estamos tratando de estratégia de comunicação. O discurso é a coisa mais importante porque não é possível exercer controle mental direto nas pessoas, obrigando-as a votar no candidato que desejamos sem precisar primeiro convencê-las — por mais que a récua queira acreditar em dispositivos milagrosos de controle mental disfarçados de máscaras faciais ou embiocados na radiofrequência do 5G.

Adaptar o discurso exige utilizar toda a informação obtida na formação da “persona” para fazer com que este discurso encontre eco nos ouvidos certos (dos eleitores que trocam de lado sem culpa nem qualquer outro tipo de crise).

Falar e escrever igual ao alvo

Um dos motivos de as mentiras da extrema-direita encontrarem tantos corações dispostos a não só acolhê-las, mas espalhá-las e amplificar sua voz, é o fato de elas serem extremamente verossímeis para o receptor da mensagem.

Os “tiozões do zap” acreditam no que leem porque o emissor da mensagem foi capaz de mimetizar o linguajar, o vocabulário, o ritmo do texto, a iconografia associada, tudo o que compõe o discurso para além do verbo propriamente dito. “Parece” tão autêntico que a pessoa não aceita sequer desconfiar que não seja uma mensagem legítima.

Até os mais IMPRECIONANTES erros de Português devem milimetrados: se o alvo estranha o uso correto de preposições, crase ou ignora as regras dos porquês, então a mensagem emitida deve cometer os mesmos “deslizes” para quebrar os limiares do preconceito linguístico de cada um (não são só os pernósticos que são preconceituosos; quem confunde “mas” e “mais” costuma não gostar de quem usa palavrado dito difícil, ou seja, fora de seu conhecimento.

Ir aonde o alvo está

Sabe por que o artista vai aonde o povo está? Porque ele sabe que o povo não vai mover um músculo para ir atrás de uma informação que não seja extremamente vantajosa para ele de alguma maneira.

Da mesma forma, se as esquerdas cirandeiras deixarem de namastê para lá e para cá, abandonarem seus discursos acadêmicos para impressionar outros pernósticos, concentrarem seus esforços para combater o inimigo da civilização, aprenderem a conhecer os eleitores outra vez, e quiserem tentar a sorte quanto a convencer o povo de que já fez tudo isso e que é merecedora de confiança, ela vai ter que ir aonde o povo vai.

Felizmente isso é algo que pode ser feito pela Internet com resultados fenomenais — a extrema-direita já provou isso sem sombras de dúvidas.

Deve a esquerda unificada descobrir quais são os hábitos dos eleitores, aonde vão para curtir, para descansar, para informar-se, e minar estes espaços com sua presença.

Não se trata de ter um canal no YouTube para tentar atingir as pessoas que gostam de vídeos no YouTube. É fundamental descobrir quais são os canais que essa galera acompanha, e fazer inserções no meio dos vídeos favoritos dela.

Da mesma forma, é preciso dar um jeito de (leia-se: pagar para) aparecer nas linhas do tempo dos usuários das outras redes, burlando o algoritmo do único jeito possível. Aqueles 30% de eleitores fieis ao ideário fascista vão bloquear o anunciante (a esquerda que a partir da unificação de objetivos e de valores aprendeu a usar as ferramentas sociais para alcançar mais pessoas), e isso é um favor. A grande massa que troca de opinião à luz dos acontecimentos recentes, que tem memória de peixe para eventos de importância histórica, vai ser bombardeada com a mensagem que pela repetição, e pela verossimilhança (do ponto de vista dos preconceitos dessa massa) passarão mais e mais a fazer sentido.

“Nossa, mas isso custa caro!” — É, mas quem não sabe brincar que nem desça pro play.

Mirar no sentimento do alvo

Comunicação eficiente é aquela em que o receptor da mensagem consegue entender correta e exatamente o que o emissor quis passar. Quando a comunicação é falha, a culpa sempre é do emissor, nunca do receptor. Isso é algo que deveria ser cristalino a todo e qualquer ser humano que se arvore a trabalhar com linguagem.

Acontece que uma mensagem só vai ser captada e compreendida pelo receptor de maneira satisfatória (do ponto de vista do emissor) quando o discurso em si — que não é só texto, embora seja esta sua essência — for além da verborreia pura e simples.

A comunicação desta nova e ainda inexistente esquerda unificada precisa considerar os sentimentos e emoções dos eleitores que quer atingir. Basicamente, o que define simpatia ou antipatia por candidatos é a capacidade destes em aplacar os piores medos das pessoas: de morrer (de fome, de violência, de doença), de não ter voz, de não poder propiciar dignidade para os seus, etc.

Ao mesmo tempo em que a esquerda se mostra como a única alternativa capaz de evitar que os medos de cada “persona” em cada grupo demográfico se realizem, ela deve expor com a mesma emoção os inimigos dos seus ideais como os crápulas que são. Não é possível fortalecer os candidatos da esquerda sem enfraquecer os da direita por causa da Matemática: o número de votos é finito e cada eleitor só poderá votar em um único candidato.

Medir, Corrigir e Repetir

Uma liderança capaz de unificar as esquerdas saberá manter profissionais capazes de medir o engajamento de cada uma das iniciativas de comunicação que fizer. Saberá comparar os resultados obtidos com os esperados, fazer correções, e repetir o ciclo inteiro, desde a investigação das personas até o “disparo” das mensagens.

Não gosto desse termo “disparo” porque soa agressivo, como um ataque. Mas é frescura minha porque o que acontecem são disparos de mensagens, em todos os meios e formatos, com o objetivo único de engatar na emoção do receptor da mensagem e com isso conquistar sua simpatia e o voto na urna.

O processo é constante e não pode arrefecer nunca. A própria extrema-direita sabe disso e já vem há década ou mais repetindo e refinando o ciclo incansavelmente.

As dificuldades óbvias

Este processo de comunicação com o povo multissegmentado é caro e trabalhoso. Até mesmo usando apenas a Internet como meio para espalhar a mensagem acaba custando muitos recursos, tanto financeiros quanto em termos de força especializada de trabalho.

Mas as lideranças, ou a liderança, que trate de encontrar meios de financiar seu trabalho, tal qual faz a extrema-direita. Muita gente doa espontaneamente seu dinheiro para espalhar a mensagem de ódio e mentira da extrema-direita. O que a esquerda precisa fazer é suscitar o mesmo tipo de financiamento coletivo, de campanhas de doações, de arrecadação de fundos por meio de patrocínios diretos ou indiretos. Tudo o que a extrema-direita faz e dá certo pode ser repetido e replicado pela esquerda.

Além disso, há uma implicação ética ou moral: se a esquerda fizer a mesma coisa que a direita, não será ela uma nova direita?

Felizmente ninguém precisa fazer o que a extrema-direita faz: é desnecessário mentir e caluniar porque essa gente envolvida com milícias, rachadinhas, com generais pedófilos, com compras de imóveis em dinheiro vivo, depósitos milionários esquecidos, essa caterva comete todo tipo de maldade e de ilícito para a esquerda explorar apenas citando fatos.

Não é fácil, não é provável, eu nem tenho esperança de que consigamos sair do jugo da extrema-direita antes que haja ainda mais derramamento de sangue do que já está havendo. Muitos milhares mais de pessoas vão morrer de fome antes que os fascistas modernos tenham o mesmo merecido fim de Benito Mussolini.

Últimas imagens de Mussolini

Mas que é possível, é. Até eu sei o que precisa ser feito. Resta às esquerdas abrirem mão de querer ser cada uma a mais fodalhufa, e unificarem esforços naquilo que é comum a todas: os valores de igualdade, inclusão e respeito a todos os seres humanos.

Newsletter

Gostou deste conteúdo? Informe seu email e receba gratuitamente todos os novos posts na sua caixa de entrada (será necessário confirmar a inscrição em seguida, verifique sua caixa postal).

Deixe seu comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.