O fenômeno dos bolsomínions arrependidos
Não mantenho contato direto com pessoas que são ou foram apoiadoras explícitas do pior presidente que o Brasil poderia ter elegido, mas nem por isso estou livre de precisar interagir indiretamente com gente dessa laia. Até porque eles são numerosos (mais de 30% da população), barulhentos e fazem questão de se mostrar para nós, pessoas.
Contudo, um fenômeno recente vem me chamando a atenção nos últimos dias: é crescente o volume de bolsonaristas arrependidos de suas escolhas, muitos até tentando apagar de seu passado o fato de haverem apoiado a barbárie, a tortura e o higienismo durante tanto tempo. Nada do que façam, contudo, vai limpar o sangue de mais de centenas de milhares de brasileiros mortos graças à necropolítica, à destruição dos recursos naturais do Brasil, e ao entreguismo político-econômico.
Honestamente, não sei como avaliar este fenômeno. As possíveis explicações para ele são numerosas, e eu falho miseravelmente em tentar compreender estas pessoas para além da dor que elas causaram (e causam) a mim e a tanta gente.
A hipótese da burrice

A explicação mais fácil para este fenômeno de arrependimento é a hipótese da burrice aguda: a pessoa ao ser incapaz de entender a diferença entre direita e esquerda nos espectros políticos só conseguiu demonizar o partido que esteve mais recentemente no poder, e por isso votou em seu antagonista mais escrotamente caricato.
Agora, ainda incapaz de entender as implicações de botar pessoas essencialmente perversas para conduzir o país, essa gente faz o único movimento intelectual que sabe, o de achar um culpado entre os protagonistas da vez, e com a mesma estultice de 2018 agora resolve que o culpado por suas mazelas é o governo, que também o era antes.
Esse tipo é muito perigoso porque a mesma covardia que o faz ser incapaz de olho a olho tentar sustentar um argumento qualquer, fá-lo virar uma besta assassina quando no meio de uma multidão, tão mais cruel quanto maiores as probabilidades de seus crimes passarem impunes.
A hipótese do arrependimento verdadeiro

Não sei se existem, mas a lógica diz que sim, pode ser que haja gente verdadeiramente arrependida de ter apoiado uma pessoa que sempre disse que sua vocação era matar, que contava com alegria que era estuprador de galinha, e que foi mandado embora do Exército por indisciplina e por ter cometido crimes militares.
Essas terão muito trabalho para me convencer de seu arrependimento sincero, pois me custa muito a acreditar que uma pessoa precise de três anos para enxergar o óbvio.
A hipótese das duas caras

Não há muito o que explicar aqui: a pessoa é simplesmente cínica, hipócrita, e ajusta seu discurso de acordo com a “plateia” para quem vai falar. Entre os que desprezam a maldade e os comportamentos repulsivos a pessoa se mostra arrependida de ter votado e apoiado a barbárie, mas intimamente ou entre seus iguais ela deixa verter o desejo de morte a todos que ela considera “inferiores” — sendo que em muitos casos ela própria seria considerada inferior perante seus próprios preconceitos.
Esse é o tipo mais perigoso de todos porque trata-se de gente absolutamente não confiável, venal, pior até que os apoiadores explícitos do inominável que pelo menos deixam claro que se elas puserem a mão numa arma não hesitarão em te matar em nome do seu fanatismo.
Essa gente com duas caras também não hesitaria em te matar, só que em vez de meter uma bala na tua testa eles vão preferir envenenamento, ou um tiro na nuca.
Em que pese a pandemia, que requer que as pessoas que podem ficar em casa fiquem, e eu posso e fico, já não tinha muita vida social antes e menos ainda tenho agora. Não são raros os casos de pessoas que foram mortas por bolsonaristas apenas porque os fanáticos se sentiram no direito de matar outro ser humano em nome de “defender” a honra de seu mito, e não quero eu vir a ser vítima de uma pessoa que vale menos que o cocô da mosca do meu cavalo.
Sempre tive em mente que só dois tipos de pessoas votam no Bolsonaro: Gente extremamente burra ou extremamente mau caráter. Quando não, as duas coisas em uma só pessoa. As burras eu consigo perdoar, mas o outro tipo, não. Simplesmente não dá. Mas infelizmente é inevitável ter que conviver com essas pessoas.
P. S: Parabéns pelo blog, acabei de conhecer. Tô adorando. Você escreve muito bem. Um abraço.
Obrigado, volte sempre! 🙂