A Última Proposta de Trabalho Veio na Véspera do Meu Aniversário
Durante anos, as propostas vinham sozinhas. Não eram apenas oportunidades — eram propostas mesmo. Pessoas mandavam e-mails, preenchiam o formulário de contato, deixavam comentários em posts do blog e até entravam em contato por amigos em comum. Perguntavam quando eu podia começar, se dava para trabalhar remoto, quanto eu cobrava.
Na época, eu era um prestador de serviço mantendo sistemas bancários funcionando. O cargo ainda não tinha um nome pomposo, mas era DevOps em tudo, menos no título: automatizar o que fosse possível, corrigir o que quebrasse, passar despercebido quando tudo estivesse funcionando.
Eu não estava procurando. Mas era visível — e requisitado. Jovem o bastante, talvez.
A última proposta chegou no dia anterior ao meu aniversário de 37 anos. Eu não sabia que seria a última. Achei apenas que as coisas estavam desacelerando — a economia, o mercado, minha presença online. Parecia algo passageiro.
Não era.
O silêncio não se anunciou. Apenas ficou — por semanas, meses e anos. Desde então, todo trabalho que consegui veio de alguém que já me conhecia, que não precisava de currículo para confiar em minha competência. Nunca parei de trabalhar, mas ninguém nunca mais me procurou.
Nada mudou na forma como eu trabalhava — só na forma como eu era visto.
A gente finge que a tecnologia funciona por mérito. Que basta ter competência. A idade não é dita, mas é percebida. Querem sêniores — desde que não lembrem ninguém do tempo passando.
Não há um momento em que termina. Só vêm menos mensagens. Depois nenhuma.
Isso não é uma reclamação. Eu ainda estou aqui, fazendo um trabalho melhor do que antes. Mas se eu não tivesse construído uma rede, não sei se ainda estaria trabalhando.
Eu não construí uma rede por prever isso. Fiz porque gostava de trabalhar com gente em quem confiava — e que confiava em mim de volta. No fim das contas, foi isso que manteve as luzes acesas.
As propostas não pararam porque eu piorei. Pararam porque fiquei mais velho, mais quieto, menos visível. O trabalho continuou bom. A percepção, não.
E depois que você entende como o filtro funciona, não tem como desentender. Você só aprende a contornar — ou fica de fora.