De Volta à Faculdade, Mas Não pelas Festas
Não voltei para a faculdade atrás de um sonho, nem pelo kit gay ou pelas orgias que os bolsomínions insistem em dizer que existem lá. Voltei pelo diploma.
Não fui tomado por uma revelação, epifania, ou qualquer paixão tardia. Só voltei mesmo por causa da matemática silenciosa de se manter relevante: na área de tecnologia, a idade conta contra você, e um diploma — mesmo conquistado de segunda época — abre portas que só a experiência não consegue.
Então eu me matriculei.
Estar de volta numa sala de aula é estranho. Não que eu me sinta desconfortável, apenas… deslocado. Conheço a linha de comando de cor. Já debuguei mais sistemas do que a maioria dos estudantes jamais inicializou. E aprendi — da forma difícil — que nem tudo precisa ser reescrito, só as partes que quebram.
Então eu sento, observo e finjo que estou aprendendo. Não corrijo nada a menos que seja muito importante. Não levanto a mão. Concordo com coisas que já sei, anoto coisas que nunca vou precisar e fico na minha. Não estou lá pelas notas. Estou lá pelo papel que diz que eu pertenço — mesmo já pertencendo há anos.
Alguns dias, porém, o absurdo extrapola qualquer limite — como a prova de programação escrita inteiramente em C, linguagem que nunca tocamos, com alternativas em Python (que estudamos) e Java (que não estudamos). Foi como receber um cardápio italiano e ser obrigado a pedir em francês ou espanhol. Você entende, mas não direito — e certamente não de um jeito que seja avaliado com justiça.
Há algo silenciosamente absurdo em ter que provar o que você já faz. Em bancar o estudante quando há tempos você é o professor. Mas parei de lutar contra isso. Algumas regras não valem a pena quebrar. Não porque fazem sentido, mas porque, às vezes, o certificado é o atalho.
E eu preciso do atalho.
Janio, meu querido goerdo… Durante a pandemia, com um medo desgraçado de morrer, comecei além de ter que achar coisas para ocupar o tempo e aliviar a mente, a ter vontade de finalmente concluir a graduação que eu nunca tive. Procurei uma universidade dessas com cursos EAD e me formei em Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Eu sempre sustentei pra todo mundo que não precisava de diploma, como você mesmo citou no texto é estranho entrar como estudante num tema em que você já é professor. No meu caso eu nunca havia concluído nenhuma graduação. Muitas disciplinas foram maçantes, seja porque eu já entendia do riscado; seja porque o conteúdo já era defasado (curso de TI tem muito disso, programação em Java 7 por exemplo). Mas depois que eu finalmente concluí e recebi um diploma, tive uma paz gigante e agora sem aquela voz que vivia dizendo pra eu me formar. O que mudou de prático? exatamente nada, até agora. Mas eu mudei, algo dentro de mim estranhamente amadureceu por conta disso. Enfim, fiquei feliz ao ler teu relato e saber da notícia, quis compartilhar contigo essa experiência e quero te desejar sucesso nesta empreitada.Vais te entediar em algum momento, em outros tu vai querer acabar pra emendar uma pós (ou outra pós). Mas vai ser muito bom! Beijo, meu irmão!
Goerdo, confesso que — como diria Kátia Cega — não está sendo fácil. Com a morte da minha mãe no meio do semestre passado eu me perdi totalmente, não consegui mais manter o ritmo. Estou penando para conseguir retomar. O que era para acabar daqui a seis meses talvez leve mais um ano e meio. Paciência, eu sei. Até porque se eu me pegar nisso estarei só cedendo ao impulso de reclamar em vez de fazer o que tem que ser feito. Quanto a querer emendar pós atrás de pós, o Treichel me disse a mesma coisa não faz muito tempo, mas ainda estou pagando pra ver! ?