A COVID-19 pode ter “escapado” de um laboratório?

Embora o caráter, ainda, de novidade da COVID-19 para a sociedade e para o próprio meio científico, é consenso para os estudiosos que o coronavírus causador da doença passou de animais para humanos em algum momento no fim de 2019, próximo de Wuhan, na China.

Não obstante, existe uma massa de pessoas a quem ora prefiro não destinar nenhum adjetivo que acredita, ou finge acreditar, que a pandemia tem origem em algum “vazamento” dos laboratórios chineses; não há evidência que possa fazer qualquer cientista sério sequer considerar esta hipótese.

Os argumentos dos conspiracionistas estão baseados nas notícias de que ainda em novembro de 2019 — um mês antes da descoberta oficial do vírus — três pesquisadores do laboratório de Wuhan teriam sido hospitalizados com sintomas consistentes com os que hoje sabemos ser os da COVID-19. Contudo, são os mesmos sintomas da gripe e do resfriado comuns.

Para acender ainda mais os ânimos dos negacionistas das doenças, o Presidente Biden encomendou um relatório a ser entregue dentro de 90 dias sobre tudo o que se sabe sobre as possíveis origens do coronavírus (aqui, em Inglês). Claro que ninguém espera que nesse ínterim tão curto se descubram novidades esclarecedoras ou mesmo relevantes sobre o assunto. O movimento do presidente americano é meramente político, e tem a ver com as desconfianças que China e Estados Unidos têm entre si, e com as ameaças de investigações que um país faz contra o outro.

A hipótese da “arma biológica”

Outra ideia que seduz os conspiracionistas é a de que a COVID-19 tenha sido criada em laboratório para ser uma arma biológica da China contra os países capitalistas do Ocidente.

Acreditar nisso é absurdo por pelo menos dois motivos muito relevantes:

  1. Quem em sã consciência criaria uma arma biológica que destruísse seus inimigos e sua própria população e exércitos?
  2. Caso o vírus tivesse “vazado” antes de a arma estar concluída, quem em sã consciência creditaria tamanho amadorismo aos laboratórios chineses?

O fato é que o Instituto de Virologia de Wuhan é responsável por décadas de pesquisas sobre diversos coronavírus (como o causador da SARS, que causou uma curta pandemia em 2003). E os coronavírus são tantos que vai ser muito difícil de se descobrir onde e como aconteceu a primeira infecção, ou de onde é o paciente zero da atual pandemia.

Por outro lado, é precisamente este conhecimento acumulado sobre outros coronavírus que está permitindo que as indústrias tenham desenvolvido vacinas em prazos tão curtos: não é uma pesquisa que começou depois da primeira infecção, mas sim um conhecimento de décadas acumulado, que pode ser aproveitado de maneira prática na criação das diversas vacinas já existentes e que vão vir a existir.

Ou seja: considerar que “foi muito rápido” o desenvolvimento da vacina também é típico de mentes paranoicas e nubladas para o conhecimento científico — assunto para outra hora.

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