A porta mais silenciosa do mundo
Era sexta ou sábado à noite, e eu comecei a me preparar para sair. Minha mãe protestou, pediu para eu não ir, pois era perigoso, poderia chover, ou eu ser atingido por uma bala perdida, abduzido por ETs ou acontecer alguma coisa com a borboleta que batia asas em Roma, desviando a tempestade de areia do Saara para exatamente o lugar aonde eu iria (que, claro, eu não lembro qual é — vidas passadas não costumam oferecer memórias tão claras assim).
Eis que todo mundo em casa foi para os respectivos quartos, inclusive eu que fui terminar de me vestir para sair, a despeito dos protestos de minha genitora.
Porém, liguei a tevê, e estava começando um filme (“Comboio do Medo”, ainda lembro), e acabei ficando sentado diante da tela por mais umas duas horas.
Terminado o filme, peguei um livro para ler, e quando deu sono apenas me troquei e me joguei na cama.
Dormi até umas 9h da manhã seguinte, e ao botar o pé na cozinha encontrei minha mãe com os olhos vermelhos contrastando com os halos roxos que os circundavam. Quando dei bom dia ela nem respondeu, só perguntou meio com voz de zumbi:
— A que horas tu chegou? Não ouvi o barulhinho da fechadura.
— Eu nem saí, mamãe…
— Ah!
Moral da história
Sua mãe pode ser uma santa, abnegada e dedicada à família, mas isso não impede que você seja um filho da puta.
(Desculpa, Véia, juro que não foi de propósito.)