Bloquear é um ato de Amor
Em tempos de ânimos acirrados, emoções à flor da pele, e todo mundo (ou quase) desesperadamente tentando encontrar um bode expiatório para suas mazelas, chegamos a um ponto no segundo turno das eleições em que temos de um lado o candidato cujo nome sequer gosto de mencionar por causa de seu comportamento belicoso e fascista, e de outro Fernando Haddad, cujo maior “crime” é ser o candidato do PT, cria do Lula que muita gente odeia.
Assim, considerando que simplesmente abandonar o Facebook não é uma alternativa viável para mim, precisei encontrar um meio de tornar meu mural (ou linha do tempo, ou seja lá como queiram chamar) menos agressiva, menos perniciosa ao meu próprio bem estar. E a solução para estes problemas é o bloqueio.
Você sabe: ao bloquear alguém no Facebook nem você nem o alguém têm mais acesso ao perfil e às publicações um do outro.
Acontece que a escolha pelo bloqueio não é uma represália contra o amiguinho que torce para o time diferente do meu. Até porque, pelamor, eu não sou tão prepotente ao ponto de achar que privar alguém da minha amizade é uma forma de castigo! O bloqueio é uma forma de proteger-me, pois — como ainda não sou capaz de perdoar instantaneamente — a atitude que eu reprovo no outro me faria entrar em um estado emocional de ódio contra ele. E sou crescido o suficiente para saber que odiar é como beber veneno esperando que o outro morra.
Disso, contudo, cometi um erro muito feio: deixei para bloquear meus amigos, as pessoas que mais aprecio, por último. “Mas o fulano é tão legal, conheço há vinte anos, por ele vou fazer o sacrifício de tolerar.”
Os amigos que eu mais queria preservar deveriam ter sido os primeiros a ser bloqueados, porque embora eu nunca vá nos posts de ninguém para contradizer o autor da fala, eles viviam fazendo isso comigo, viviam de olho no que eu publicasse para vir cagar um meme idiota ou uma notícia falsa para tentar minar as minhas convicções. Eu jamais deveria ter permitido que esse tipo de atitude acontecesse duas vezes, de ninguém, mas permiti muitas e entrei no debate tentando mostrar que quem acha que pode decidir quando uma pessoa deve morrer não vale nada, nem mesmo a vida dos ácaros que ela respira diariamente junto com o oxigênio.
Peço desculpas a estes amigos, embora eu saiba que eles não vão ler estas linhas, e se lerem vão estar xingando porque eu não voto no candidato que admira torturadores e que já prometeu que vai dar o golpe no primeiro dia de governo.
E peço desculpas a mim mesmo por ainda alimentar tanto o cão raivoso dentro de mim, em vez de dar mais carinho para o dócil.