Como Contornar os “Paywalls” dos Portais de Notícia
Você sabe o que é “paywall”, mesmo que não esteja associando o nome à coisa em si. São aqueles bloqueios irritantes que alguns (muitos) sites impõem para os visitantes não assinantes de seus serviços, impedindo as pessoas de terem acesso ao conteúdo que é de seu interesse e que — na maioria das vezes — já está no computador, celular ou tablet do visitante.
Não quero entrar no mérito de que os portais precisam ganhar dinheiro de alguma forma para poderem continuar produzindo e oferecendo conteúdo. Só não concordo que a maneira como eles implementam as políticas para assinantes (e não assinantes) seja a mais adequada.
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Maneiras de obter receita online
Que a Internet (que já não é mais sinônimo apenas de “web”) é um meio como qualquer outro para as pessoas conviverem e expressarem-se, isso não é novidade para ninguém. E como um meio onde pessoas existem e acontecem, também está cheio de oportunidades para se ganhar dinheiro, de maneira honesta, questionável ou criminosa, de maneira inteligente ou burra.
Lá pelos Anos 1990 e início dos 2000, quando a Internet começou a ficar popular no Brasil (e no mundo), havia uma crença de que tudo o que estivesse disponível online deveria ser gratuito para o usuário. Houve muita discussão no sentido de que quando o produto ou serviço é grátis então a pessoa é que é o produto.
Um dos conceitos que mais me assustaram, e eu fiquei triste por não ter se concretizado, seria o de um computador que seria entregue gratuitamente aos consumidores; o “miolo” da tela seria utilizado pelos programas comuns, e as bordas seriam utilizadas totalmente para exibir propaganda incessante durante o uso da máquina. Se eu pudesse ter um destes em mãos eu obviamente tentaria hackeá-lo para instalar um sistema operacional saudável, e no início dos Anos 2000 eu sei que conseguiria — hoje não sei, pois estou a cada dia mais assumindo que sou tiozão e que, mesmo não sendo carteiro, gosto de sê-lo.
Exageros à parte, muita gente fez fortuna com venda de publicidade na Internet, e muita gente continua faturando alto, embora o “ecossistema” no geral tenha mudado bastante.

Um dos maiores problemas que a receita baseada em propaganda implicou foi o abuso, que levou à necessidade de criação de mecanismos de defesa, os famosos “adblockers”. Era comum, e em muitos casos ainda é, que o usuário fosse sequestrado pela infinidade de anúncios disfarçados de conteúdo, de cliques automáticos, de janelas de propaganda infinita. Alguns navegadores já saem “de fábrica” com adblockers ativos, e isso, claro, acabou impactando na receita dos sites que se baseiam neste modelo de negócio.
Se você não me conhece, e pela primeira vez está lendo um conteúdo meu, por favor não pense que eu sou avesso à publicidade online. Pelo contrário!
Os meus sites todos (quase todos) têm anúncios, e o dinheiro que ganho com eles é muito bem utilizado. Porém, eu sigo alguns critérios objetivos de respeito ao visitante:
- não implico com os “adblockers” dos visitantes, cada um sabe como prefere lidar com as propagandas;
- não uso nenhum tipo de propaganda invasiva ou que impeça meu visitante de consumir o conteúdo como bem entender;
- faço todo o possível para que os anúncios não se tornem mais importantes do que o meu conteúdo.
Entretanto, não é para todo mundo que este modelo funciona.
O Paywall
Com a ascenção dos “adblockers”, que são um sinal de que o usuário, o consumidor de conteúdo na Internet, está de saco cheio da propaganda excessiva, bem como com o aumento da concorrência pelo dinheiro dos anunciantes, os publicadores de conteúdo começaram a ver sua receita minguar, o que obrigou todo mundo a repensar suas estratégias e modelos de negócio.
Os veículos menores e mais independentes migraram para ou associaram novos canais aos seus sites (aproveitando a voracidade dos analfabetos funcionais por conteúdo em vídeo, por exemplo, já que não conseguem ler e entender textos). Outros apostaram em modelos de financiamento baseados em doações espontâneas, mecenato, ou como queiram chamar. E muitos resolveram tornar seus serviços anteriormente gratuitos em serviços pagos, baseados em assinaturas.
E é justamente aí que entram os “paywalls”, que são a maneira que eu considero inadequada de ganhar dinheiro com o conteúdo.
O “paywall” é um script que é injetado nas páginas do site, cujo objetivo é verificar se o visitante paga para acessar aquele conteúdo; se não for este o caso, o script bloqueia o conteúdo que já está no navegador da pessoa, causando frustração para dizer o mínimo.
Este é o erro que eu vejo nos “paywalls”: o conteúdo é entregue primeiro, para depois ser ofuscado. É absurdo que eu não tenha o direito de visualizar, consumir, fazer o que eu quiser, com o conteúdo que já está no meu computador.
Só que os portais de notícia (ou websites de maneira geral) não se garantem para obter tráfego só de seus assinantes. Eles precisam de tráfego orgânico (aquele que é proporcionado pelos mecanismos de busca, tipo Google e Bing) e principalmente das visitas oriundas das redes sociais. Sem estes visitantes eles não conseguem manter os anunciantes felizes (já que a maioria continua explorando o antigo modelo das propagandas).
Implicações Éticas de Burlar o Paywall
Como tudo na vida, cabe uma discussão sobre a ética de se burlar os “paywalls”, que eu vou ensinar logo abaixo.
De minha parte, a discussão deveria começar analisando se um site tem o direito de entregar propositalmente um conteúdo qualquer ao meu dispositivo (celular, tablet, computador) e impedir-me de consumi-lo.
A partir daí, ao menos para mim, fica claro que não há conflito ético algum em utilizar de meios tecnológicos equivalentes ao “paywall” em si para anulá-lo.
Se a cara pessoa leitora deste texto, contudo, achar que é errado anular o “paywall” (o que é bem comum de acontecer com gente que usa Windows pirata, mas acha que as grandes empresas de mídia são pobrezinhas que vão falir caso eu use “adblocker” e mande os “paywalls” às favas), então é favor guardar sua opinião para si. Qualquer crítica imbecil sobre esse assunto, nos comentários, será apagada.
Como Burlar o Paywall — Finalmente!
Eu conheço duas maneiras eficientes de burlar o “paywall” dos sites de notícias que frequento.
Alguns “adblockers” conseguem eliminar alguns “paywalls” também, mas particularmente nunca fui muito bem sucedido com este tipo de configuração, o que me leva a usar dos meios abaixo.
Burles.Co
A primeira maneira de ter acesso livre a qualquer conteúdo é usando o Burles.Co — uma extensão que deve ser instalada no navegador e cujo objetivo é interceptar e desativar o script que ofusca o conteúdo que já terá sido entregue ao seu computador.
Não vou entrar em detalhes de como instalar o Burles.Co porque ele tem algumas particularidades que requerem que a pessoa seja um pouquinho mais avançada no uso do navegador.
O que acontece é que a versão fácil de instalar foi banida da Chrome Webstore, e agora é preciso instalar TamperMonkey ou outra extensão equivalente, e depois proceder a instalação do “userscript” correspondente. Nada complicado para quem manja dos paranauês, mas pode ser bem desmotivador para quem não tem esse perfil.
Seja como for, eu uso e aprecio o Burles.Co, mas não existe, que eu saiba, a possibilidade de instalá-lo no celular ou no tablet.
Antes: outline.com — Agora: 12ft.io
Esta é, sem dúvida, a alternativa mais acessível para quem quer visualizar qualquer conteúdo sem ser importunado com propagandas, “paywalls”, ou qualquer outra interferência.
O 12ft é um serviço que recebe como parâmetro o endereço de uma página cujo conteúdo se queira consumir, e que devolve uma página “limpa”, com o conteúdo livre os penduricalhos.
Sempre que vou compartilhar algum link no Facebook (única rede social que venho usando, e cada vez menos), informo tanto o link original da notícia — que provavelmente será inacessível para meus seguidores — quanto o link do 12ft.
Exemplo de uso do 12ft
Por exemplo, tomemos a seguinte página do Valor Econômico:
https://valor.globo.com/politica/coluna/a-carta-da-renuncia.ghtml
Provavelmente você não conseguirá ler praticamente nada da notícia, porque o “paywall” bloqueia.

Agora, o mesmo link na sua versão Outline:
https://outline.com/vrA8cM (O outline.com foi descontinuado)

Haverá algumas situações em que o Outline não será tão eficiente. Algumas imagens se perdem, alguns parágrafos podem não ser compreendidos pelo analisador deles como sendo parte do conteúdo — mas ainda assim é um dos melhores sistemas que conheço para contornar “paywalls” abusivos.
Mimo: botão do Outline para a barra de favoritos
Gosto muito de automatizar tudo o que for possível no meu uso do computador, com o objetivo de facilitar minha vida.
Assim, desenvolvi um script (de apenas uma linha, complexidade quase zero) que pode residir na barra de favoritos do navegador. Uma vez colocado ali, este favorito vai funcionar como um botão que converte qualquer página que se esteja visualizando na sua versão Outline.
Arraste o seguinte link para sua barra de favoritos, mas não clique para não sair daqui, indo parar na versão Outline desta página — a não ser que seja isso que você queira:
Considerações Finais
A despeito do que possam achar algumas pessoas, é lícito contornar paywalls para poder ler o conteúdo que os portais de notícia entregam em nossos computadores para em seguida bloquear.
Cabe a cada consumidor decidir se prefere assinar os serviços destas empresas de notícias, e aí cabe a cada uma fazer o melhor para encantar os consumidores, a ponto de eles não sentirem a necessidade de burlar seus “paywalls”.
A mim, cumpre apenas esperar que as pessoas se acostumem a compartilhar as versões Outline do que divulgam no Facebook, para que todos possam ler o conteúdo.
Por fim, o conhecimento tem que ser livre, e estou fazendo a minha parte ao ensinar como retomar o controle do seu computador, ao menos no que diz respeito aos portais que tentam impedir as pessoas de ler o que já está diante delas.
Jânio, eu uso InoReader + Pocket. O primeiro pra acessar o RSS dos portais (os que tem rss) e o segundo tem a mesma função do outline, porém permite escutar (TTS) pelo celular.
Muito legal!
Há tempo desisti de abrir sites de jornais. Vamos ver se consigo instalar por aqui \°/ ?