“Desculpe, eu não entendo ironias!”
Semana passada o Rio de Janeiro teve o privilégio de contar com a presença de um casal de amigos meus, moradores de Barcelona. De minha parte, fiz o máximo para estar com eles o tempo todo, embora os compromissos tenham, de certa forma, me impedido de estar tanto quanto eu gostaria.
Entre as diversas atividades que fiz com eles, inclui-se um passeio (que foi ótimo) ao Cristo Redentor.
Quem nunca fez este passeio não imagina a rapacidade dos taxistas que ficam na entrada do “Trenzinho do Corcovado”, na tentativa de fazer dinheiro levando os turistas de carro até um certo ponto do passeio. Quem conhece, ou tem um amigo que conhece e ensina, jamais comete a estultice de ir de táxi num passeio que deve ser feito no trenzinho.
Pois estávamos nós três descendo do ônibus, e logo atrás de nós um grupo de turistas americanos. Os taxistas vieram feito abutres pra cima da gente, e com um gesto fui afastando-os, mas os americanos não tiveram a mesma presença de espírito.
Meus amigos e eu discutíamos quem iria pagar os ingressos, quando senti algo cutucar meu ombro. Era um dos gringos.
— Is it your first time in Rio?
— No, I live here.
(Para quem não manja Inglês: o rapaz me perguntou se era minha primeira vez no Rio, e eu respondi que moro aqui.)
Então o rapaz quis saber se valia a pena ir de carro ou não, porque o taxista dizia que era muito mais barato e confortável. Eu disse, então, que jamais faria esse passeio de carro.
— Se vocês forem de carro, vão ter de pagar passagem na van que os levará até a entrada do parque, e depois terão de pagar o ingresso para entrar; e terão de pagar novamente para voltar. De trenzinho vocês pagam uma vez só, têm direito a ir e voltar, o ingresso no parque está incluído, e o passeio é muito mais bacana e divertido.
Os gringos resolveram me ouvir, e os taxistas ficaram injuriados. Um deles falou alguma coisa que eu nem lembro, mas recordo que respondi dizendo:
— Amigo, ele me fez uma pergunta, eu tenho a obrigação de ser honesto.
Não sei se ele viu que estava escrito com suco de limão, nessa frase: “se vocês são desonestos e ganham a vida enganando as pessoas, eu não”.
Eles continuaram tentando com seu Inglês de Joel Santana demover os gringos da ideia de serem sensatos, e quando estávamos todos já chegando à fila do ingresso, um deles, dando-se por vencido, falou (com o mais forçado e artificial possível sotaque de malandro carioca):
— Aí, gordo, valeu pela força, hein! Apareça aqui todo dia pra nos ajudar!
E eu, com um sorriso nos lábios, quase que fazendo coraçãozinho do Luan Santana com as mãos, respondi:
— Desculpe, amigo, mas eu não reconheço nem entendo ironias!