É o Foro de São Paulo, ué!

Hoje de manhã fui a uma clínica chique para uma consulta com minha hematologista. Minha lista de prioridades inclui não ter carro, mas pagar pelo melhor plano de saúde que meu orçamento comporta.

Na sala de espera, enquanto eu não era chamado para o consultório, tive de conviver alguns minutos com espécimes apoiadores incondicionais do onagro apedeuta.

Eram dois casais totalmente estereotipados: os caras pareciam mais velhos, as mulheres artificialmente mais jovens, repuxadas, esticadas e com aquela leve paralisia facial que um olhar mais atento logo associa ao Botox. Os quatro eram pessoas que falavam “praca” (“a praca do Mercosul”, a “praca dos carro”).

A despeito de suas habilidades com a pronúncia das consoantes, as quatro pessoas demonstravam acreditar ser muito versadas em política e economia internacionais. Por exemplo, teciam loas à situação econômico-social do Chile “antes da esquerda destruir tudo” (sic).

Um dos senhores que falavam “praca” também demonstrava ódio contra “a esquerda”, mas ao mesmo tempo demonstrava não ser tão fã assim do onagro. Cheguei a sentir até uma certa empatia por ele, e lamentei por ele ser paciente do oncologista.

Este senhor fazia contrapontos às manifestações dos outros, e não tentava demonstrar (não tanto quanto os outros) entender de coisas que não entende.

Logo antes de eu ser chamado para a consulta um dos caras disse que a ação popular no Chile, a vitória da esquerda na Argentina, a provável vitória do candidato de esquerda no Uruguai, bem como os “ataques” da Globo contra a familícia eram tudo coisa do Foro de São Paulo.

— O que é isso? — perguntou o menos escroto dos quatro reaças.

— Isso o quê?

— Esse Foro de São Paulo, o que é isso?

— Ah… Hum… Ahn…

— O que é esse Foro de São Paulo? Nunca ouvi falar…

— Ah, é o Foro de São Paulo, né… É eles que quer destruir a direita no mundo…

E aí fui para a consulta com minha médica de clínica chique, e não pude mais apreciar o espetáculo grotesco que os casais chiquérrimos apresentavam — em minha mente eles reencenavam a centopeia humana, falando uns nas cavidades corporais dos outros esperando ouvir o eco de sua megalômana estultice.

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