“Ele é a Mulher Maravilha!”

Tenho um amigo que é massoterapeuta, que hoje está numa situação confortável, mas há uns poucos anos não gozava da mesma sorte. Logo que ele começou na profissão dividíamos um apartamento no Centro de Porto Alegre, que já foi palco das situações mais escabrosas que alguém poderia… Esqueça, ninguém poderia imaginar.

Nessa época de vacas anoréxicas meu amigo tentava desvencilhar-se do karma de consertar PCs velhos e comemorava quando conseguia marcar um cliente de massagem, porque era um passo a mais para fora do círculo de sofrimento e ranger de dentes que a vida de técnico em informática implicava.

Tínhamos uma certa rotina, que incluía almoçar em casa para reduzir despesas, e naquela manhã específica ele não apareceu para almoçar.

Como ele sempre saía cedo para trabalhar, e eu trabalhava em casa, um nunca sabia da rotina do outro, e só quando ele chegou em casa arrasado, tarde da noite, é que pude perguntar a causa do seu sumiço.

— Não pude vir almoçar, porque me atrasei na cliente da manhã, onde fui só instalar um mouse. Mas aí cheguei lá tive de trocar a fonte do computador. Só que pra comprar a fonte nova a mulher me deu um cheque e tive de ir pra fila do banco para descontar. Aí fui direto para o cliente da massagem.

— Nossa, que epopeia!

— Mas isso não foi nada! Cheguei lá e o velho estava fedendo, e eu pensei “não vou botar a mão nesse velho fedido, vou mandar tomar um banho”. Mas aí ele me disse que não tinha podido tomar banho porque o chuveiro estava queimado.

— E aí? — indaguei curioso.

— E aí que lá fui eu trocar a resistência do chuveiro do velho. Mas era um encanamento velho, e quebrou a rosca bem rente à parede. Então tive de quebrar a parede, consertar o cano, trocar o chuveiro, para finalmente o velho poder tomar banho e fazer a massagem.

— Nossa, que estrupício!

— Para encerrar o dia de merda, o ônibus que vinha do cu do mundo para o Centro quebrou, e fiquei mais de uma hora esperando que consertassem para poder vir embora.

Num momento desses, um conhecido sentiria pena do cara. Um amigo se perguntaria o que poderia fazer para melhorar o dia de merda da pessoa. E eu, na condição de melhor amigo, irmão de coração, fui obrigado a dizer:

— Ele configura computador, ele é técnico em eletrônica, ele é office boy, ele é pedreiro, encanador, eletricista e até massagista! Ele é a Mulher Maravilha!

Tantos anos passados, acho que agora é tempo de explicar ao meu amigo — que eu sei que lê tudo o que eu escrevo — que naquele momento eu não estava duvidando de sua masculinidade nem questionando sua virilidade na vida. Apenas, lembrando que a pessoa que mais se virava no universo real ou imaginário (como se houvesse universo real, mas deixa pra lá) foi Linda Carter, em seu ritual à la miojo para deixar instantaneamente de ser Diana Prince para virar a Mulher Maravilha.