Experiências com mensagens subliminares
Recentemente os artigos Técnicas de Lavagem Cerebral, Programação Subliminar e Mensagem subliminar em site da Microsoft têm atraído um bom número de visitantes ao Blogue. Como já vai muito tempo desde que escrevi o primeiro deles (foi em agosto de 2005), prometendo que relataria duas experiências que eu próprio fiz com mensagens subliminares, promessa que nunca cumpri, resolvi quitar esta dívida, fazendo uma “confissão” aos meus leitores.
Não lembro o ano, mas sei que eu tinha comprado o livro Propaganda Subliminar Multimídia, de Flávio Calazans, onde aprendi muito sobre as técnicas de manipulação que a propaganda usa para induzir a população a comprar, consumir, gastar. O autor se considera um fracassado, pois ele dedicou uma vida de pesquisas para provar que não existem subliminares na mídia, mas não teve sucesso, as evidências todas provam que subliminares existem e são muito utilizados. Lembro que quando li o livro fiquei atônito de saber que propagandas como a da Fanta (agora não vejo mais tevê, praticamente, não sei se ainda são daquele jeito) com centenas de imagens passando em alta velocidade, cada fotograma ocupando apenas um ou dois quadros da transmissão, não dando tempo de a mente consciente avaliar o que está lendo, são — eram, pelo menos — proibidas na Europa, justamente por caracterizarem subliminares.
Naquela época eu “desenvolvia pra fora”, era a época dos 386 e 486, e o ambiente mais comum era Clipper em modo texto. Até tinha quem se aventurasse em VB e CA-DBFast, para o Windows, mas devido à instabilidade do ambiente gráfico, e do baixo poder de processamento das máquinas, o bom e velho texto era soberano. Eu tinha alguma vantagem sobre a “concorrência” porque enquanto todos os desenvolvedores ainda se baseavam em uma tela de duas cores, onde o máximo de destaque que se dava a um objeto era um texto piscante na tela, eu abusava dos textos coloridos, simulando janelas e botões. Talvez meus sistemas não fossem assim tão melhores do que os dos outros, mas a aparência justificava o sucesso que faziam.
Um cliente comprara de mim computador, impressora e o sistema para controlar sua empresa. Coisa simples, não mais do que quatro ou cinco telas, e igual quantidade de relatórios. Não haveria necessidade de mais do que umas duas ou três horas de treinamento para que ele usasse o sistema, porém ele me telefonava todo santo dia com dúvidas. As mesmas dúvidas. E ficava o maior tempão ao telefone. Eu já não suportava mais, e resolvi então tentar aplicar uma das técnicas que o Calazans descrevia no livro.
Modifiquei então uma das rotinas do sistema, e a intervalos regulares de um minuto eu punha na tela, num dos cantos — agora não recordo —, a frase “não preciso ligar para o Janio”. Esse texto não aparecia por mais de 1/24s (um vinte e quatro avos de segundo), e honestamente eu duvidava que fosse fazer efeito. O fato, contudo, é que o cara nunca mais me telefonou, passando a usar o sistema com desenvoltura e naturalidade.
A segunda experiência aconteceu poucos anos depois, e já foi bem mais elaborada. Uma pequena rede de supermercados de Porto Alegre era cliente de um amigo meu, que entre outras atribuições cuidava do sistema de som das lojas, escolhendo as músicas que tocavam nos corredores, instalando e mantendo alto-falantes, etc. Um dia ele me comentou que as lojas estavam sendo vítimas de roubos, e estava ficando cada vez mais difícil controlar, até porque os ladrões estavam ficando mais e mais agressivos, o que estava por conseguinte afastando a clientela que realmente desejava comprar as mercadorias. Comentei com ele o que tinha lido no livro do Calazans, e em outros lugares, e narrei uma experiência de que eu ficara sabendo, que fizeram justamente em supermercados, inserindo faixas de áudio de freqüências baixas junto ao áudio do sistema de som ambiente, para induzir as pessoas a serem honestas.
Meu amigo gostou da idéia, e preparou todo o equipamento e as fitas com as “ordens” de não roubar nem criar confusão, e mixou as duas programações, de forma que quem estivesse dentro da loja ouviria “apenas” a música ambiente, mas com as ordens sendo transmitidas subliminarmente. O resultado disso foi uma redução drástica dos roubos. O que era algo como dois ou três incidentes por dia passou a ser um ou dois por mês. As vendas nas lojas aumentaram, pois os clientes se sentiam mais à vontade e passavam mais tempo na loja, o que culminava em compras mais volumosas.
Cabe observar que são duas técnicas simples, que estão ao alcance de qualquer mané que queira fazer uso delas. Logo cedo eu vi que a responsabilidade de usar técnicas subliminares é muito, muito grande. Não dá pra ter noção do estrago que se pode fazer na mente de uma pessoa, principalmente se ela estiver despreparada e suscetível à programação. Dá até pra fundar uma igreja e atrair fiéis; contribuições pecuniárias polpudas é que não iriam faltar.