Gerenciador Financeiro

Há cerca de quatro anos eu passei por uma dificuldade financeira muito, muito grande. Eu tinha de fazer alguma coisa, mas “não conseguia” tomar nenhuma atitude, até porque estava sempre deprimido por falta de dinheiro. E embora eu não ganhasse lá essas coisas, tinha de ser o suficiente para sobreviver, pois havia colegas que ganhavam ainda menos que eu, e viviam bem, até adquiriam patrimônio.

Até que um dia caiu a ficha de que eu estava à beira de um colapso: alguéis vencidos, contas atrasadas, conta bancária estourada, e capacidade de concentração nula. Ou seja, se eu bobeasse perderia meu emprego. Algo precisava ser feito, com urgência.

Graças a Deus, alguns anjos têm aparecido na minha vida em momentos críticos, e me salvado. Neste momento específico o anjo foi meu patrão, que preocupado com minha queda de rendimento no trabalho me chamou para uma conversa, e eu abri o coração pra ele, falei das dificuldades, do medo, e da incapacidade de ver uma saída. Ele então cometeu um crime para me favorecer: demitiu-me formalmente da empresa, para que eu pudesse pegar o dinheiro do FGTS, décimo-terceiro salário e férias proporcionais, e ainda me deu dez dias de folga para eu resolver todas as minhas questões. Ele não sabe, até hoje, o quanto sou grato a ele por isso, por ter facultado que eu saísse de uma bela enrascada.

Mas é claro que isso apenas remediou o problema imediato, mas não solucionou minha vida financeira. O próximo mês chegaria em breve, e as chances de que o salário outra vez não fosse suficiente eram imensas. Restava apenas um caminho, uma solução, mas o ego simplesmente não a aceita: fazer um levantamento completo da situação financeira, e um fluxo de caixa detalhado, para poder ter noção do destino que eu dava ao dinheiro. O ego tem medo de fazer isso, porque ao analisarmos nossas próprias despesas descobrimos, muitas vezes, que não somos tão sensatos quanto pensamos (eu ia escrever que descobrimos que somos infantis, mas isso poderia soar agressivo).

Então, lutando contra toda resistência e boicote de mim contra mim, comecei a anotar numa agenda cada centavo gasto ou recebido, cada conta a receber ou a pagar. Sem saber eu estava fazendo meu fluxo de caixa, usando as ferramentas mais primitivas possíveis (papel e caneta). Porque se eu usasse uma planilha, como seria até sensato, ou um programa adequado para isso, eu me sabotava e não resolvia.

Enfim, acabei já nos primeiros dias identificando os principais gargalos do meu fluxo de caixa: refrigerantes, revistas, fichas de fliperama, CDs de música que eu nunca ouviria (isso que eu me regrava a no máximo um por mês), supérfluos de maneira geral. Passei a pensar duas vezes antes de fazer uma despesa inútil, porque eu sabia que teria de prestar contas a mim mesmo no final do mês, e que aqueles reaizinhos poderiam significar o pagamento ou não de todas as contas.

Descobri também que eu não ganhava o suficiente para o padrão de vida que eu tinha. Que não esstava dando para pagar o aluguel do quitinete, e por isso fui morar numa pensão. Desfiz-me de muitos pertences, e com eles de muitos sonhos e ilusões. Meu único conforto era um televisor de tudo de 29″. Nem banheiro privativo, ou chuveiro quente, eu tinha. Computador, telefone, DVD, então, só nos meus sonhos.

Foi seis meses morando na pensão, tomando banho frio às duas da manhã (que era quando parava o fluxo de gente no banheiro). Foi o tempo necessário para eu me recuperar financeiramente, e depois ir morar novamente num quitinete, depois num apartamento de um quarto, e agora num de dois com um banheiro enorme (e nunca mais precisei tomar banho frio). Pude readquirir tudo o que eu perdera. Agora posso dar-me ao luxo de ter tudo de que preciso, pagar minhas contas, cursar faculdade, passear, comer bem. Lógico que esse progresso tem a ver com um bom emprego, também, e com a diversificação de minhas fontes de renda. Mas a principal causa da melhora sem a menor sombra de dúvida reside na atitude mais fácil e simples que é o fluxo de caixa.

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