Minha fraca memória

Vou fazer uma confissão aos leitores de meu blog: eu tenho um acentuado problema de perda de memória. E embora a ilustração mostre uma antiga memória de computador, estou me referindo à minha memória enquanto pessoa a nível de ser humano.

Quem me vê desempenhando um trabalho que é essencialmente intelectual, ou toma conhecimento de minha trajetória dentro das salas de aula pode não acreditar, mas é a mais pura verdade: eu tenho problemas sérios para lembrar coisas.

Mas também não é mal de Alzheimer que me acomete, não precisam se preocupar meus amigos. Tampouco estou ficando senil (se eu estivesse falando, você perceberia alguma hesitação nessa última frase). E também não ando fumando nada.

Minha falta de memória diz respeito, principalmente, a eventos passados. Sou atualmente incapaz de memorizar uma data de aniversário, por exemplo. Eventos históricos, então, nem pensar. Aliás, para datas históricas eu já tinha memória ruim quando criança, pois durante os anos de primeiro e segundo graus e faculdade, apenas uma vez, na sexta série, eu fiquei de recuperação. A disciplina? História, naturalmente.

Não saberia eu precisar quando essa amnésia começou. Acho que esqueci dos primeiros sinais.

Mas ouso dizer que tem um pouco a ver — não, melhor: acho que tem muito a ver — com o fato de eu ter desistido de guardar mágoas das pessoas e de me sentir vítima de eventos passados. Num determinado momento da minha trajetória eu resolvi que iria escrever uma nova história para minha vida, e com isso tudo o que me aconteceu de um incerto momento para trás tem a mesma importância que uma vida passada. Lembranças de quando eu morava em Porto Alegre são tão “naturais” quanto as de minha encarnação como andarilho na Europa medieval (se é que me entendem).

Engana-se, contudo, quem pensa que esse problema de memória me incomoda. Ao contrário!

Uma vez que desocupo minha mente de informações inúteis, sobram-me recursos para ser criativo, para pensar em coisas que realmente me interessem (pois fazer papel de vítima interessa apenas ao ego, e não ao meu ser). Com toda essa deficiência de memória, estou estudando Espanhol por conta própria, e quem viu os resultados já se mostrou entusiasmado. Estou lendo uns quatro livros ao mesmo tempo. Estou trabalhando mais do que nunca. Estou desenvolvendo novos produtos e serviços para a PortoFácil.

O único desconforto é quando algum amigo me pergunta de alguma situação de uma vida passada, que para ele pode ser tão recente quanto duas semanas atrás, e eu não tenho mais registro nenhum: é terrível o dilema entre ter de fingir que lembro do assunto que se não registrei é porque não me interessa, ou correr o risco de magoar uma pessoa querida dizendo que tenho coisa mais importante com que me ocupar.

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