Não mexa com quem está quieto
Não estou mais morando em Porto Alegre. Agora estou vivendo no interior de São Paulo, em Ribeirão Preto (até quando for).
Nessa mudança, uma das coisas que descobri é que a principal diversão dos paulistas, não importa de que canto do Estado, é contar piada de gaúcho. Mas não o tempo todo, é só quando estão na presença de um gaúcho (principalmente aqueles que, como eu, não se envergonham de usar as gírias e interjeições típicas da minha Terra (apesar de não cometer exageros, como não cometem os gaúchos na sua vida normal).
Nesta quarta-feira fui jantar com um amigo num boteco muito simples, mas que serve uma costela deliciosa a um preço incrivelmente acessível. E o boteco calha de ser de outro gaúcho, que também não nega suas origens.
Lá chegando, tinha um bando de gente falando de futebol, e não sei o que mais. Quando entrei o dono do boteco veio me cumprimentar efusivamente com “ô, Gaúcho, quando é que tu vai lá praquela nossa terra abençoada?”, e perguntando se eu ia querer o de sempre. Ao ouvir isso o bando começou a desfiar piadas de gaúcho, umas duas ou três até engraçadinhas, as demais totalmente sem graça.
Ora, quem me conhece sabe que eu não me importo com piadas baseadas em estereótipos, quando a piada tem o mínimo de graça. Mas não admito que me desrespeitem pessoalmente, ou qualquer pessoa pelo simples fato de desrespeitar (como fez a torcida de sei lá que time quando morreu a travesti que se envolvera com o Ronaldo “Felômeno”: mandou uma coroa de flores para o velório da pessoa como se fosse a última homenagem do jogador, num total ato de desrespeito com a defunta e sua família).
Assim que chegou minha carne resolvi interromper as piadinhas decoradas do bando de bocós, contando a que se segue.
Vocês conhecem a história do gaúcho que queria comprar um penico em São Paulo? Pois é, ele queria um penico, e o balconista da farmácia — tirando onda com a cara do gaúcho — dizia que em São Paulo não existe tal coisa chamada “penico”. E o gaúcho se esforçando pedindo um urinol, então, e explicando como era, do que era feito, qual a aparência. Até que ele enxergou um penico na prateleira e apontou.
— Aquilo ali, ó, é um penico, é aquele ali que eu quero, esmaltado!
— Ah, aquilo! Aqui em São Paulo a gente chama aquilo de gaúcho!
— Então, tá… Tu me dá um gaúcho, então, que eu vou-me embora…
— De que tamanho o senhor quer o gaúcho?
— Ah, que caiba uns três ou quatro paulistas dentro…
Por algum motivo que eu não sei bem dizer qual o bando voltou a falar de futebol, e não contou mais piadas.
Pena, estavam justamente começando a ficar engraçadas.