Naquele tempo a gente só chamava de Tela

Há um renovado fascínio com as TUIs — interfaces baseadas em texto que rodam no terminal, que parecem código mas são feitas para pessoas. Elas usam esquemas de cores contrastantes, atalhos de teclado, painéis que se atualizam instantaneamente. Elas têm presença não porque tentam impressionar — mas porque não tentam.

Para alguns, as TUIs parecem um retrocesso. Para outros, é apenas… familiar.

Houve um tempo em que toda interface era uma TUI. Não por razões estéticas, mas porque era só o que havia. Monitores brilhavam em verde ou âmbar, menus eram feitos de barras e traços. Instaladores se moviam como ratos num labirinto de caracteres para desenhar caixas. Não era charme ou minimalismo, era necessidade.

Configurei sistemas por meio de telas dialog muito antes de saber o que era um dialog. Escrevi scripts que ecoavam linhas de texto puro porque desenhar retângulos era muito dispendioso. Se você iniciava um sistema a partir de um disquete, cada tecla pressionada contava. Não havia espaço para teorias de interface — a coisa tinha que funcionar, e rápido.

As novas TUIs? Elas são diferentes, elas brilham, deslizam, exibem gráficos, painéis com milhares de cores. Elas têm um estilo, é claro, mas também uma mensagem: eu posso fazer mais com menos. Muitas vezes é verdade, às vezes é só teatro.

Eu uso algumas TUIs, e escrevo meus programas fazendo uso delas. Algumas são genuinamente boas, outras tentam se afirmar.

De vez em quando ainda me pego pensando: qual o objetivo das TUIs? Velocidade? Foco? Controle? Ou apenas uma sensação de estar mais perto da máquina, mesmo que haja camadas e camadas de abstração entre o hardware e o usuário?

Naquele tempo, nós não as chamávamos de TUIs. Era só a tela. Se o cursor estava piscando, significava que o sistema estava pronto para trabalhar.

E nós também estávamos.

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