O que leva pessoas a desejarem a volta do militarismo no Brasil?

Uma das coisas mais dolorosas da popularização da Internet é também uma das coisas mais belas relacionadas a esse fenômeno: todo tipo de opinião agora tem espaço, e as pessoas que antigamente ficariam caladas por medo do ridículo agora encontram seus pares para gritar em coro suas sandices.

Um dos aspectos mais nojentos disso tudo são as pessoas que clamam pela volta do regime militar no Brasil, sob os mais diversos pretextos. Tenho uma teoria acerca da razão de haver gente clamando pela volta de um regime de terror, e vou resumi-la abaixo. Para simplificar vou dividir a análise em grupos, mas é claro que há retardados que farão parte de dois ou mais destes grupos.

Quem quer a volta do regime militar?

Basicamente, quer a volta do regime militar quem é muito burro, estúpido mesmo. Mas também há os que a querem por serem mau caráter mesmo.

Os imbecis opiniáticos

Estes são os mais numerosos, em minha humilde opinião e quiçá distorcida visão. São os que não viveram os dias de terror da ditadura militar, que têm uma visão romantizada de homens fardados — acredito que por verem filmes demais e acharem que todo militar é o Rambo.

Há imbecis que já eram adultos durante o regime militar brasileiro, que acreditam cegamente que “só foi torturado quem mereceu”, por exemplo. São os que causam mais tristeza. Em parte credito essa atitude à mentira do dito Milagre Econômico e da patacoada dos “cinquenta anos em cinco”, propagandeadas pelo governo da época e engolidas a seco pela população fragilizada.

Os imbecis acreditam cegamente que o fato de um homem ser do exército (eles jamais vão admitir mulheres nas forças armadas, muito menos pessoas trans) o torna uma espécie de santo, de bastião da moral ilibada e da honestidade incontestável.

Os covardes perversos

Estes são perversos porque eles apreciam a violência, o uso da força, o justiçamento sumário. São sádicos vazios de compaixão, de solidariedade.

Porém são covardes tanto para admitir estas características quanto para sair rua afora surrando pessoas, porque sabem que a impunidade é para poucos.

Eles não aguentariam o repuxo de em algum momento ter de pagar pelos seus crimes (os que têm vontade de cometer, mas para os quais não têm culhões suficientes), sofrendo na carne a mesma violência que anseiam infligir a outrem.

Então estes covardes projetam sua perversidade sobre os milicos, porque acreditam primeiro que eles são autorizados pela farda que vestem a descer o cacete em quem ousar qualquer coisa que lhes pareça pretexto para a violência. É como alguém querer ter orgasmos com as partes pudendas alheias.

Os oportunistas

Existe um tipo de gente que quer a volta do militarismo que não é exatamente o tipo beócio de que falei acima. Trata-se de um tipo de perverso muito perigoso, já bastante popular principalmente em templos neopentecostais: o oportunista quer quer se dar bem em cima dos pacóvios que acreditam em qualquer discursinho merda.

Os oportunistas na verdade não querem a volta do militarismo, apenas dizem o que a massa parva deseja ouvir para se validarem como tela de projeção para a perversidade. Seu objetivo é ocupar postos de destaque para obter benefícios que só quem está ou esteve num destes postos para saber (eu posso imaginar, mas para não ser leviano não vou citar nada).

Este tipo de mau caráter não tem ética nenhuma, mas costuma apresentar-se como a solução para todos os problemas, prejulgando e condenando qualquer um que não tenha tido a sorte de fazer parte da “elite” de machos brancos, héteros e ricos (ou de fêmeas que se “sabem” inferiores portanto escolhem ser submissas desses machos).

Como lidar com esse tipo de gente

Quando a gente não é uma pessoa destas (otários, sanguinários ou oportunistas) pode ser particularmente difícil de lidar com essa nojeira. Entretanto precisamos estar cientes de que quem escolhe (conscientemente ou não) apoiar este tipo de extremismo é gente limitada, pra quem faltou algo importante na infância: ou faltou amor, ou faltou disciplina (que é um aspecto de faltar amor); normalmente foram crianças que só tiveram coisas, nunca experimentaram a proteção de pais e mães amorosos que lhes ensinassem o valor da solidariedade, por exemplo.

Com crianças assim, tão abandonadas, devemos lidar com amor, e não querer exterminá-las da face da terra com um lança-chamas ou bombas de napalm.

Não que eu consiga ser amoroso com esse tipo de gente, mas pelo menos eu sei como deve ser, né?

Crédito da imagem: Ministério da Defesa no Flickr

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