Os gringos desligados

Há alguns dias tirei um dia de folga forçado, por conta de problemas no meu computador. Tanto na ida quanto na volta do passeio inesperado presenciei cenas bem pitorescas, uma das quais já contei no Twitter (inapropriada para crianças) e a outra vou contar agora.

No tal do “metrô de superfície” em que fui para o Barra Shopping havia bem pouca gente: além de mim, os tripulantes, um canadense, um casal de nordestinos — pelo sotaque achei que fossem de Recife — e um casal de japoneses bem jovem.

O canadense e o casal de nordestinos pareciam saber aonde iam. Eu, embora ainda não conheça assim tão bem o Rio de Janeiro, sempre planejo meus percursos com a ajuda do Google Maps, de forma a minimizar as surpresas, razão pela qual estava tranquilo.

Já o casal de japoneses foi pedir ajuda para a trocadora do ônibus; em um Inglês muito enrolado, mas ainda assim melhor que o da tripulante da rodonave, eles se fizeram entender: queriam ficar na estação mais próxima da praia.

— A praia da Barra? Podexá, japoneis, que quando tivé perto eu aviso. Só que tem que atravessá uns bagulho lá, não é na bera da praia, não, hein! — disse a trocadora, fazendo-me lembrar da Dona Jura, personagem interpretado pela atriz Solange Couto.

O trajeto foi percorrido com tranquilidade, sem atropelos nem superlotação. Uma ou outra figura pitoresca, mas nada digno de muita nota, ou talvez eu estivesse mais ansioso por chegar logo ao shopping do que em observar os tipos ao meu redor.

De repente, uma gritaria.

Japoneis, ô Japoneis! — vociferava a trocadora, repetidamente.

Como o casalzinho nipônico não desse a menor pelota para a tripulante que esgarçava a garganta a chamá-los, interpelei-os caprichando na pronúncia do Inglês, para que me entendessem, e disse que era com eles que a mulher falava.

Cumequié, Japoneis, vai dexá passá a parada, tu não qué i pa praia, Japoneis?!

Fiquei ainda mais penalizado com a situação e avisei que era hora de eles descerem.

— It’s here, your stop is here, buddy!

O casalzinho pulou porta afora exclamando discretamente “arigatô” (a moça) e “thank you” (o rapaz), com um sorriso luminoso que só a inocência pode proporcionar a alguém.

E a trocadora do ônibus, profunda conhecedora da personalidade dos estrangeiros, arrematou:

Vô ti contá, hein! Esses gringo é tudo desligado mermo, vive viajando!

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