Para que serve o empreendedorismo?
Sexta-feira, hospital meio chique de Ribeirão Preto. Fui levar um amigo para fazer litotripsia, e enquanto aguardava longas horas por ele na sala de espera acabei por ouvir um diálogo que não me dizia respeito, mas se queriam privacidade que procurassem um lugar que não fosse exatamente ao meu lado para conversar.
Da conversa que ouvi escrevi o texto que eu gostaria de ter ouvido. Só uma das falas é fictícia, assim como o nome do personagem. O resto é verdade e dou fé.
Era uma família: Seu Djalma, a filha dele e dois netos, sendo que o mais novo estava passando por uma correção de hérnia.
Todo mundo que passava cumprimentava o homem. Alguns perguntavam se ele estava de paciente ou de acompanhante, já que não estava com a roupa azul de trabalhador. Todo mundo demonstrava admiração, carinho e respeito por ele.
Quando tiveram a chance de ficar “a sós” (tanto quanto possível num lugar público) a filha tratou de começar a dar esporro no pai. O problema era uma empresa que ele havia iniciado, e com a qual teria ido à falência.
— Pai, não é assim que funciona. A gente não monta empresa pra perder dinheiro, e sim pra prosperar. Você não pode gastar o dinheiro da sua aposentadoria pra cobrir buraco da empresa.
— Eu sei, filha, mas isso está sendo resolvido, logo vou poder fechar a empresa.
— Logo, pai? E vai continuar pagando pra trabalhar? A gente abre empresa para prosperar, para adquirir patrimônio, e não para gastar dinheiro que nunca mais vai reaver.
— Não filha. A gente abre empresa para fazer a economia andar, para gerar empregos, para possibilitar que pessoas sustentem suas famílias dignamente. A gente abre empresa também para ganhar dinheiro para si, mas eu já tenho tudo de que preciso, então abri empresa pra cumprir meu papel como cidadão possibilitando que outros cidadãos também possam ter o que precisam para viver com dignidade.
— Ah, não, pai. Se a empresa não deu certo é porque Deus não quer que o senhor tenha essa empresa. Tem que fechar logo para não desagradar Deus, e para parar de gastar dinheiro.
— Filha, você acha mesmo que eu vou fechar a empresa antes que o último empregado tenha conseguido encontrar um outro emprego? Se sim você deve estar louca, eu posso te conseguir uma consulta com o psiquiatra.
— Ah, pai, o dinheiro é seu, mas acho que você deveria pensar mais em si antes de gastar dinheiro com os outros.
— E eu acho que você deveria se escutar mais nesse seu cristianismo todo, e seguir mais o exemplo do seu pai pra dar a ele um pouco de orgulho.
O senhor não está só no seu pensamento, Seu Djalma. São pessoas como o senhor que fazem a vida valer a pena, apesar de tudo.