Posso te tirar pra Otávio?
Quando converso com as pessoas mais próximas, não raro acabo recorrendo a trocadilhos e piadas internas de modo a identificar fatos, situações, pessoas, que para os “não iniciados” são disparate puro.
Por exemplo: eu agradeço dizendo urutus. Para as pessoas em geral isso não faz o menor sentido, mas para quem acompanhou a evolução do trocadilho (bem simples, para não dizer besta) faz totalmente. Vejamos:
- Para não dizer “obrigado”, a gente (eu) dizia “thanks”.
- “Thanks” logo virou “tanques”.
- Quando o agradecimento era mais especial, “tanques aos lotes”.
- Urutu, além de ser um tipo de serpente (mas meus conhecimentos de herpetologia se resumem a ver as reprises do Jeff Corwin na Band), é o nome de um tanque de guerra fabricado pela brasileira Engesa.
- Logo, explica-se por que dizer “urutus” quando alguém me faz um favor é uma forma de agradecimento.
Entretanto, só hoje me dei conta de que a história por trás de uma outra expressão merecia ser contada aqui. Falo de “tirar pra Otávio”.
Diz-se que alguém vai tirar outrem pra Otávio quando vai queixar-se, resmungar, ou, de maneira não tão mas ainda assim adequada, desabafar.
A origem desta remonta uns meses atrás, quando recebi um telefonema de um amigo que mora no Rio há bastante tempo. Meu amigo telefonou me xingando e cobrando, que se eu tinha alguma coisa contra ele que dissesse em vez de ficar me escondendo no MSN, pois isso é falta de respeito com um amigo tão antigo quanto ele. Respondi que isso não tem nada a ver, que uso o MSN como ferramenta de trabalho, que aliás, trabalho muito, muitas horas por dia, e não tenho batido papo não só com ele mas como também com ninguém mais, que se eu tivesse algum problema eu diria na cara, como sempre fiz. Ao fim da minha explicação meu amigo se despediu.
— Então tá beleza, Otávio, fico mais tranquilo agora — e desligou o telefone.
Fiquei com a maior cara de bunda, pois demorou pra cair a ficha que eu estava levando um esporro por uma bronca que nem era minha, sem nem mesmo ter a chance de dizer “eu acho que é engano”.
Portanto, da próxima vez que eu perguntar se posso te tirar para Otávio, tenha medo!