Racismo e Outros Preconceitos “Inconscientes”
Essa semana o treinador da seleção de jogadores brasileiros de futebol fez uma declaração que se tornou mais importante do que sua atuação à frente da equipe. Ele disse “acho que sou afrodescendente de tanto que gosto de apanhar.” Naturalmente, ele no mesmo dia emitiu um pedido oficial de desculpas e ficou tudo bem. Digo, pelo menos na cabeça dele.
Entre pessoas que pensam a declaração do atleta suscitou e está proporcionando muitos debates sobre racismo, muita gente defendendo o ponto de vista de que ele apenas escolheu mal as palavras, e também muita gente afirmando que ele foi racista.
De minha parte afirmo: o comentário dele foi racista, sim. Tenha tido ele a intenção de ofender ou não, são outros quinhentos (e de boas intenções se pavimenta a estrada para o inferno).
O comentário revela algo que nunca esteve realmente oculto: as pessoas continuam racistas, porém elas param e olham o seu entorno antes de fazer comentários preconceituosos contra pessoas negras. Tanto que ele usou o termo “afrodescendente”, como se isso automaticamente anulasse o racismo impregnado em suas palavras.
Aliás, é muito bom que as pessoas parem e pensem antes de fazer comentários preconceituosos. Mesmo não tendo o respeito legítimo por outro ser humano, se a pessoa fingir que tem, ainda mais se fingir bem, já é um avanço.
Há quem diga que a declaração do técnico foi “racismo inconsciente,” razão pela qual ele deve ser desculpado.
Quando o racismo é inconsciente, a obrigação da pessoa (não que eu queira cagar regra) é tornar-se consciente do seu comportamento para então descontinuá-lo. Para uma pessoa pública como ele isso é fundamental.
O mesmo se dá com outros comportamentos doentios, como homofobia, transfobia, misoginia, xenofobia, etc.
Se é inconsciente, para além de culpar a pessoa a denúncia é importante para que ela adquira consciência do que vem fazendo, para ter a chance de mudar.
Acontece que não há debate quando se trata de legitimar o racismo. Não tem espaço para isso.
Quem quiser continuar sendo racista que continue, mas sabendo que o mundo mudou e que não há mais a possibilidade de sentir “orgulho” por detestar, menosprezar, ou apenas prejulgar pessoas por causa de sua cor de pele.
É por isso que digo: para quem pensa assim, o choro é livre, porque a pessoa já está do lado perdedor da História (ainda bem).