Reatividade para os reaças
Felizmente tenho podido circular só na minha bolha de civilidade, ultimamente, o que evita que eu tenha de contracenar com fascistas e reaças em geral.
Entretanto, quando acontece de um motorista de aplicativo, ou outra pessoa, ser da seita aleivosa dos lambedores de hemorroida do fecálito inelegível, eu não gasto um átimo tentando trazer qualquer razão à pessoa: ao contrário, eu puxo um Paulo Autran do multiverso e encarno um personagem muito mais reaça do que meu interlocutor.
Outro dia, em São Paulo, uma pessoa argumentou que o Oxxo seria uma evidência da expansão chinesa “dominando” o mundo, e que teria visto um vídeo do brasil paralelo em que “provavam” que a China estaria comprando portos ao redor do planeta.
Eu poderia ter tentado fazer um arrazoado com o cara? Ter mudado de assunto? Dito que iria responder uns emails, e em vez disso ver uns tumblrs de putERROR? Poderia.
Mas em vez disso falei pro cara:
— Mano, primeiro que esse papo de “ao redor do planeta” é bobagem, pois todos sabem que a terra é plana, tanto que se chama planeta e não redondeta. Segundo, quem pode mais chora menos. Se a China tem dinheiro para comprar portos do mundo, duas coisas: primeiro ela me-re-ceu (assim, escandindo), e segundo que tem quem venda. O mercado é livre para decidir o que é melhor, e se os donos dos portos acham que vender o patrimônio para a China preferem assim, temos que respeitar, o mercado é soberano!
Só ouvi a voz do cara novamente ao fim da viagem, agradecendo pela preferência.
Noutra feita, voltando da terapia, o moço fez um comentário de ódio contra a população de rua, ao que eu poderia ter reagido de mil maneiras polidas, educadoras, evasivas. Porém, baixei meu personagem reaça e descasquei disparates do mesmo tipo:
— Concordo com você, essa gente que não produz nada, que só vive à custa de esmola, tem que morrer. Mesma coisa gente drogada, alcoólatra, fumantes, pessoas com vícios em geral. Sou a favor da execução sumária tanto para quem for pego roubando quanto para quem for pego fumando ou bebendo. Sem essa de cortar as mãos, é eliminar a maçã podre. Além disso, pobre não poderia ter o direito de reproduzir, porque quanto mais pobres, mais a classe trabalhadora como você e eu, que ganha acima de 20 mil por mês, tem que pagar imposto para sustentar quem não produz o suficiente para subsistir.
Esse ficou quieto até o fim da viagem, quando então ele me disse:
— Moço, acho que o senhor precisa ser um pouco mais flexível, Deus não quer que as pessoas tenham tanto ódio umas das outras.
— Direitos humanos para humanos direitos! — gritei ao sair do carro. Tentei babar, para deixar bem caricata a hidrofobia, mas não consegui.