Sem Tempo, Irmão, para Modinhas

Vi um fio no Mastodon outro dia. A galera empolgada com o Bun, esculachando o YAML como se ele tivesse matado o cachorro deles. Alguém comentou sobre subir containers com bunx. Teve até quem comemorasse a ideia de abandonar o Docker de vez.

Passei reto.

Não porque eu discordasse — só não me identifiquei com os assuntos. O tom era familiar, a certeza também. Era gente que nunca compilou um kernel, nunca esperou um Palm sincronizar via porta serial, nunca brigou sobre se o Linus estava certo ou errado quanto aos microkernels. Mas tinham zero dúvida: agora vai.

E talvez vá mesmo. Eles só estão em outro ponto da linha do tempo.

Lembro bem dessa fase: atualizando o Hacker News no automático; salvando palestras que eu nunca ia assistir; aquela ansiedade leve ao perceber que ainda não tinha testado o Redis e o pessoal já tava migrando pra outra coisa com nome impronunciável; semana após semana, sigla após sigla, todas sussurrando que a relevância é uma corrida que você pode perder deixando passar.

Aí veio a virada — aos poucos. Parei de clicar em todo link, de salvar tudo “pra depois” — sabendo que esse depois nunca chega.

Com o tempo, você começa a reconhecer os nomes, os padrões. As ferramentas mudam, mas o discurso é o mesmo — assim como as concessões e as promessas. Você não revira os olhos — apenas exala e deixa passar. Não é cinismo, exatamente; é mais como se a gravidade tivesse mudado. Um “não, valeu”, calmo, sem espinho.

Mas aí vem a dúvida: será que é sabedoria, ou só cansaço? É experiência ou inércia fantasiada de serenidade?

Não tem resposta limpa. Tem dia que você se sente centrado; em outros, fossilizado. Lê descrição de vaga que parece anúncio publicitário e se pergunta quem ainda escreve código de verdade — e quem só cola camada em cima de camada, torcendo pra funcionar.

Não sei se é sabedoria ou só fadiga posando de vivência. Mas sei disso: se você ainda constrói coisas que funcionam, ainda resolve problemas que importam, então você não ficou pra trás. Só parou de correr atrás de toda novidade. O trabalho continua. A hype passa.

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