Tem gaúcho que pede pra virar piada

Não só o Mr. Manson e a turma do Casseta & Planeta fazem piadinhas duvidando da masculinidade dos gaúchos. Assim como nós aqui fazemos muita piada de paulista, eles lá fazem muita piada sobre nós.

Como aquela, que o gaúcho em São Paulo tenta comprar um penico, e o balconista para sacanear finge não saber o que é, e quando o bombachudo aponta para o objeto na prateleira o cara diz que em São Paulo aquilo se chama gaúcho; e meu conterrâneo rebate: “então me veja um que dê para botar uns quatro ou cinco quilos de paulista dentro”.

Independente do mérito de estes ou aqueles terem razão em suas piadinhas, o fato é que tem gaúcho que realmente se presta a certas coisas descabidas. Principalmente os que têm mais orgulho de serem rústicos e falarem grosso.

Dia desses eu estava ouvindo rádio no walkman, e tocou uma música que eu não conhecia. Aliás, no mesmo dia ouvi duas versões da mesma música (deprimente, por sinal), sendo que uma delas era com o tradicionalista consagrado Wilson Paim. Nem prestei muito atenção na letra, mas sei que no momento em que ele para de cantar para declamar um estrofe de quatro versos dá vontade de chamar o Lindomar para dar uma voadora nele.

Veja que mimo o “versinho”:

Comer as frutas silvestres
Da mata da minha estância
Plantada por mão do mestre
Que comi na minha infância

Fala sério!

Se ele não tivesse alguma intenção de criar o duplo sentido que é um tiro no pé, ele poderia ter apenas reordenado os versos mantendo métrica e rima (troquei uma preposição para dar mais sentido):

Comer as frutas silvestres
Que comi na minha infância
Plantadas por mão do mestre
Na mata da minha estância

Duvido que antes de ir parar nos CDs que tocam nas rádios essa letra não tenha passado por incontáveis pseudo-intelectuais, não tenha sido ouvida por dezenas de artistas, não tenha sofrido intermináveis ajustes e correções. Será que só eu tenho o ouvido apurado o suficiente, com a necessária dose de mente-suja, para identificar a malícia pedofílica dessa estrofe?

Duvido.

Se a classe que constrói a cultura deixa na reta assim, como nós vamos acusar os paulistas de oportunismo? Só resta torcer para que nenhum paulista leia esse texto, e que a música não toque por lá.

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