#365Posts – Por que eu pago aluguel feliz

É difícil escrever sobre um assunto quando a gente sabe que alguém já escreveu sobre ele antes, disse o que a gente queria dizer e de maneira muito bem dita. Mas ainda assim vou discorrer brevemente sobre por que eu acho vantajoso pagar aluguel em vez de me escorchar todo para comprar um apartamento.

Quando eu disse que alguém já escreveu muito melhor sobre o assunto, estava pensando neste post: “Quem é o Burro?”. O post é antigo, os valores desatualizados, mas a lógica persiste. E este me foi dado a conhecer por causa de uma matéria superficial pra caramba, mas enfim, que o Invertia publicou sobre quando vale a pena viver de aluguel.

Do meu ponto de vista, principalmente considerando que não tenho herdeiros com quem me preocupar (meu irmão, mais novo que eu, já tem uma condição estável, e o patrimônio da família, em última análise, vai ser todo dele mesmo), a questão principal diz respeito à relação entre o sacrifício para pagar pela moradia versus o benefício que obtenho de volta.

Sem entrar no mérito dos valores absolutos (o quanto eu ganho e gasto só diz respeito a mim, a mais ninguém), devo dizer que caso fosse comprar um apartamento igual ao em que moro hoje eu gastaria de prestação mais do que o dobro do que gasto em aluguel, condomínio e taxas. “A prestação é decrescente”, alegariam alguns. Sim, é decrescente, mas o decréscimo é minúsculo, porque a cada prestação paga o saldo devedor diminui uma merreca, e continua sendo devido o juro de todo o saldo devedor.

“Mas o teu aluguel é caro, compra um apartamento mais acessível”, podem argumentar outros. Porém, essa opção não existe na prática, porque para morar num lugar mais acessível eu teria de abrir mão de morar em Copacabana, ao lado do metrô, a três quadras do mar, onde o metrô resolve todas minhas necessidades de transporte, para ir para um lugar mais distante, onde eu seria obrigado a ter um automóvel (que não custa barato, só quem tem para saber) e onde com certeza eu seria infeliz.

Agora, supondo que eu tivesse o dinheiro todo para comprar o apartamento em que moro, considerando um investimento que rendesse 0,5% ao mês: valeria a pena pagar o aluguel, porque o investimento renderia 25% a mais do que os gastos que tenho com aluguel (sendo que condomínio e taxas são devidos não importa o status da moradia, alugada ou própria). Não precisa licenciatura em matemática para entender essa lógica, basta ter apreendido na infância os conceitos de maior e menor.

Há outras vantagens em se morar de aluguel, das quais destaco:

  • a manutenção do imóvel é de responsabilidade do proprietário;
  • se o inquilino não gostar da vizinhança — e a minha é uma voadora no saco — ele pode mudar facilmente para outro prédio; e
  • um inquilino que paga suas contas em dia e não dá trabalho tem poder de negociação com o proprietário, e as renovações de contrato podem ter reajustes inferiores à média geral do mercado (tornando ainda mais forte o argumento de que o dinheiro investido rende mais do que a economia que se faz ao deixar de pagar aluguel).

Contudo, morar de aluguel tem três grandes desvantagens, em minha opinião:

  • a necessidade de se lidar com burocracias de imobiliárias, que criam tantas dificuldades para se alugar um imóvel e não se dão conta que qualquer patife com um pouco de prática falsifica todos os requisitos com uma mão nas costas, enquanto uma pessoa de boa fé mas impossibilitada de apresentar toda a documentação se vê privada de alugar alguns imóveis (como eu, que fui impedido de alugar um apartamento porque meu extrato bancário não era suficiente comprovante de renda, era necessário apresentar carteira assinada e cópias de contracheques — como se sou autônomo?);
  • o inquilino fica impotente na situação em que o proprietário resolva exigir o imóvel de volta, gerando um estresse (que beira o insuportável, no meu caso) em busca de outro apartamento;
  • os apartamentos são alugados com a condição de serem devolvidos em iguais condições ao término do contrato, o que impossibilita que se façam móveis sob medida (essenciais em espaços exíguos), por exemplo, pois estes terão de ser removidos quando se for entregar o imóvel.

Apesar de tudo, caso eu ganhasse uma grana inesperada, eu consideraria comprar um imóvel, apenas para não ter de enfrentar a desagradável situação de precisar mudar de apartamento de tempos em tempos. Mas como a probabilidade disso acontecer é virtualmente nula, vou manter a atitude de, quando vierem me cobrar que tenho 40 anos e moro de aluguel, responder: “tá, vou ver isso aí”. Encerra qualquer discussão chata na hora.

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1 comentário
  • Fabi Neves Responder

    Eu penso exatamente da mesma maneira que você. Fui criada com meus pais martelando na minha cabeça todos os dias que eu tinha que trabalhar (passar fome) para juntar dinheiro e comprar uma casa. Só que eu nunca tive essa neura. Não pretendo comprar apartamento por enquanto, até porque, se não tenho o dinheiro para pagar a parcela, perco o apartamento, se não tenho dinheiro para pagar o aluguel, também perco, então, como não sou de criar raízes, prefiro alugar. Pode ser que no futuro até venha a mudar de ideia, mas por enquanto, prefiro deixar tudo do jeito que está.

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