A maldição do conteúdo em vídeo

A Internet é uma das coisas mais incríveis já inventadas, se não for a melhor coisa desde a invenção da roda.

Entretanto, as pessoas tendem a abusar de determinadas “fórmulas”, a partir do momento que alguém diz que estas serão a nova Panaceia para bolsos depauperados ou apenas famintos por grana. Tem sido assim com tudo, e o fenômeno dos vídeos na Internet tem se mostrado um dos piores castigos para quem valoriza o seu tempo.

Vale notar que não estou criticando os vídeos generalizadamente: há casos em que o conteúdo audiovisual é perfeitamente adequado (quando se vai mostrar uma música, ou qualquer outra representação artística). O que me incomoda profundamente é o exagero, é o uso do vídeo como única apresentação do conteúdo, privando alguém que não possa ou não queira ver uma gravação de saber do que esta trata.

O mote de hoje

Hoje mesmo fui, pela indicação de um cliente, ao site de um novo sistema de afiliados para inscrever-me. Que arrependimento!

Não há nada de conteúdo na página a não ser o vídeo. Pelo crédito que meu amigo tem comigo assisti àquela tortura até o fim, e acredite: ficar quase cinco minutos vendo uma pessoa falar sem naturalidade para nem ao menos piscar é muito assustador!

E nada do que o cara levou todo este tempo para falar levaria mais do que trinta segundos para ser lido. Não sei os analfabetos funcionais, mas eu me senti roubado, já de cara, porque o sujeito me tirou algo que eu nunca mais vou ter de volta: o tempo.

O mau uso de sempre

Claro que se há quem faça vídeo de absolutamente tudo hoje em dia é porque existe uma demanda, existe quem consuma este tipo de coisa.

Um exemplo são as enfadonhas videoaulas: muitas vezes a pessoa é obrigada a assistir a vinte, trinta minutos (quando não mais) para obter uma informação muito simples, que se estivesse em forma de texto na página tomaria poucos segundos para ser localizada com um CTRL-F da vida.

Eu tinha que procurar alguém, só não lembro quem.
Eu tinha que procurar alguém, só não lembro quem.

Entretanto, tenho percebido que de um tempo para cá as pessoas estão, mesmo, incapacitadas de ler e interpretar textos. Elas “precisam” do vídeo porque é a única forma que conhecem de reter algum conteúdo em suas mentes atrofiadas: se lerem um texto de 800 palavras é certo que chegarão ao último parágrafo sem lembrar mais do que leram no início.

O mau uso que pode ser pior do que mau

Outro caso típico que me irrita muito são as “apresentações de negócios em vídeo”. A pessoa quer te convencer a comprar seja lá o que for que ela esteja vendendo, mas é incapaz de escrever uma apresentação detalhada e textual do produto, serviço ou negócio. Em vez disso ela quer te enviar um vídeo.

Porra, um vídeo?!

Só pode ser porque:

  • a pessoa é uma imbecil incapaz de escrever uma ideia que deseje expressar;
  • ela acha que eu sou um imbecil incapaz de ler e interpretar um texto;
  • ela quer usar de recursos visuais, linguísticos ou de sei lá o quê para não me deixar pensar sobre o assunto, e aceitar sem pensar o que quer que ele me diga.

Em qualquer caso, já começou errado, e a chance de eu negociar com uma pessoa dessas só não é nula porque tenho evitado dizer “dessa água jamais beberei.”

O que me resta

A mim, só resta pensar que não sou obrigado a negociar ou me relacionar com todo mundo que apareça pela frente; e que se um de meus critérios para achar que um produto ou serviço é ruim é a utilização de vídeos para expor informação (ou ocultar — depende do ponto de vista), tudo bem.

E se as coisas ficarem realmente ruins, eu sempre posso fugir para as montanhas e me tornar um ermitão.

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2 comentários
  • Júnior Responder

    Também me sinto assim quando vejo um vídeo e pensando que aquele mesmo conteúdo poderia ter me custado muito menos tempo se estivesse em texto. Mas atualmente o pessoal está tão avesso a qualquer tipo de leitura, que quando vê um texto com mais de 10 linhas já o chama, pejorativamente, de textão, como se fosse um desses textões idiotas e retardados do facebosta.

    E você vê que a situação não só não vai melhorar como tende a piorar quando a principal forma de se ingressar nas melhores universidades do país consiste de, dentre outras coisas, escrever um texto que não pode passar de 30 linhas. Quando prestei o vestibular da UNICAMP, a redação tinha que ter, NO MÍNIMO, 20 linhas.

    • Janio Sarmento Responder

      Não vai melhorar.

      Na verdade, o mundo todo tende a piorar muito nos próximos anos, até chegar ao ponto de ser insuportável para pessoas como nós. Felizmente, ao menos para mim, me restam poucas décadas de vida nesse planeta. É essa a esperança que me move.

Responder Janio SarmentoMenu

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