Eu me “aposentando” das redes sociais

Os amiguinhos mais atentos já devem ter percebido que faz um longo tempo (uns dois anos) que uso o Twitter extremamente pouco, e que ultimamente (coisa de duas semanas, talvez três) tenho utilizado o Facebook também cada vez menos.

Sem rodeios, a razão é simples: estou cuidando de minha saúde mental.

Infelizmente as redes sociais têm se tornado cada vez mais desagradáveis, e vêm permitindo que as pessoas descubram o quão repugnantes podem ser as pessoas que elas amam, ou pelas quais tenham algum tipo de admiração. Eu mesmo tive a desdita de descobrir que amigos e parentes com quem me criei e por quem sempre nutri afeto cultivam valores e comportamentos totalmente incompatíveis com os meus, dos quais destaco:

  1. “Bandido bom é bandido morto.”
  2. Acreditar que o Jean Willys quer destruir a família e tirá-lo para inimigo.
  3. Papagaiar que bom era no tempo da ditadura.
  4. Descambar qualquer comentário para “a culpa é do PT.”
  5. “Daqui a pouco vai ser obrigatório casar com alguém do mesmo sexo.”
  6. “Mulher que se veste desse jeito está pedindo pra ser estuprada.”
  7. Ser favorável à redução da maioridade penal, como se o hiperencarceramento fosse a solução mágica para a vida, o universo e tudo mais.
  8. “Direitos humanos para humanos direitos.”
  9. Achar que mulheres bem sucedidas estão “dando pro cara certo.”
  10. Achar que garantir os direitos das minorias é promover privilégios a elas.

São apenas exemplos, e qualquer um sabe que essa lista mal dá a entender o tamanho do desgosto.

Enfim, não aguento mais ser exposto a tanta gente especialista em tudo (mas que não sabe a diferença entre “mas” e “mais,” que escreve e fala “menas” sem ser de tiração de onda) incapaz de um gesto de empatia por outra pessoa.

A gota d’água que fez a represa transbordar, o ácaro que fez o camelo quebrar a espinha, foram comentários sobre um episódio de linchamento (em Bangladesh, mas não importa) de um menino de dez anos acusado do roubo de uma bicicleta, gerando comentários apoiando a atitude dos assassinos, sob a justificativa de que ladrão bom é ladrão morto. Não que faça diferença, mas o guri nem era ladrão, não tinha roubado magrela nenhuma.

Então, estou fazendo um “detox” de redes sociais, das quais não me afasto totalmente porque elas ainda são importantes para divulgar meu trabalho, para conversar com pessoas que amo e cujos discurso e atitude me enriquecem como ser humano em vez de me fazer sentir ódio, e para aprender com pessoas que se dispõem a partilhar seu conhecimento, seja lá em que área for.

Então, se eu não responder àquele comentário ou post em que fui marcado, ou se não responder uma mensagem no chat do Facebook, não me leve mal: estou apenas cuidando da higiene da minha mente, afinal nem só de banho vive uma pessoa asseada.

Newsletter

Gostou deste conteúdo? Informe seu email e receba gratuitamente todos os novos posts na sua caixa de entrada (será necessário confirmar a inscrição em seguida, verifique sua caixa postal).

4 comentários
  • Walquiria Lobato Responder

    Voce e Cátia disseram muito bem!

  • cátia andressa da silva Responder

    Eu sempre tenho medo de falar isso e ficar parecendo com aqueles discursos hipócritas de “você é o que você cativa” ou algo do gênero, mas eu gostaria mesmo que as pessoas passassem um dia logadas no meu Facebook e vissem que todo esse lixo burro e essa turba de mentalidade tacanha não existem por lá. Não existem mesmo.
    Sorte? Não, faxina! Comecei aos poucos, excluindo aqueles com discursos de ódio e compartilhamentos toscos que não faziam a menor diferença na minha vida. “O que você faz aqui mesmo? Ah é, não faço ideia. Adeus.” E não fazem mesmo. Depois, aqueles que eu gosto, mas se mostraram uma decepção, eu silenciei. Não é no Facebook que se muda visão de mundo, então desses eu trato pessoalmente ou ignoro mesmo.
    Só que eu não fiz só faxina, eu também curti páginas cheias de bons exemplos e adicionei pessoas que fazem coisas lindas pelo outro, pelo mundo. O resultado é uma timeline com coisas divertidas, bichinhos fofos, bons exemplos e discussões saudáveis.
    Fiquei alienada? Não! Mas como eu escrevi na minha coluna do jornal outro dia, assumi pra mim a responsabilidade de não disseminar lixo. Eu sei o que está acontecendo ao meu redor, mas eu não preciso saber que a “tia Josinéia” acha mesmo que bandido bom é bandido morto. Tem tanta gente mais interessante e inteligência pra eu prestar atenção.
    Sei lá, eu recomendo essa experiência de mudança que vem da gente mesmo.
    Não gostaria de te perder de vista nas minhas timelines. <3
    Beijo, desculpa o textão.

    • Janio Sarmento Responder

      Catita, sobre textão digo o mesmo que a Neide me disse outro dia: tu pode tudo. 🙂

      Eu também faxinei bastante meu Facebook, mas ainda chegam comentários de pessoas bacanas nem que sejam criticando esse tipo de comentário que abomino.

      E tenho muitos amigos que não fazem esse tipo de faxina, e os amigos deles têm esse tipo de mentalidade, e acabam compartilhando do mesmo espaço que eu em assuntos “polêmicos.”

      A faxina é possível e viável, mas requer um nível de desprendimento e abstração que eu ainda não estou conseguindo ter.

      Mas fica tranquila, que como eu disse só vou aparecer menos, mas vou continuar me manifestando, sim. 🙂

      Milhões de <3 pra ti. 🙂

      • cátia andressa da silva Responder

        Sobre os assuntos polêmicos e os comentários do tipo “deus, queime meus olhos!” que lemos, eu concordo com o Becher que diz que desde que tudo virou uma rivalidade futebolística (especialmente política), eles não valem mais a pena.

        Bilhões pra ti! <3

Responder Walquiria LobatoMenu

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.