Meu Jeito é Diferente — Te Mostro Depois do Teu

Não trabalho bem em ambientes barulhentos. Prefiro estar sozinho em casa, cercado pelos meus gatos e pelo tipo de silêncio que faz o tempo passar devagar. Gosto de me concentrar no que estou fazendo, sem distrações, sem música — apenas o trabalho. Mas quando algo precisa ser feito, eu faço, mesmo que as condições não sejam ideais.

Quando me convidaram para dar aula em um curso técnico, minha reação imediata foi recusar. Não por desinteresse, mas porque levo o ensino a sério demais para entrar em uma sala de aula sem me sentir preparado. A ideia de ficar diante dos alunos sem saber se seria útil me incomodava.

Antes da primeira aula, ensaiei como me apresentar. Tive dúvidas sobre o que vestir. Tentei prever as perguntas que me deixariam inseguro e pratiquei um “posso te responder depois” com ar confiante. Tudo isso me pareceu artificial. Não gostei dessa fase.

A sala de aula confirmou parte dos meus receios, mas também me surpreendeu. A maioria dos professores seguia o modelo tradicional: slides, conteúdo, lista de tópicos. Tudo bem, só que eu entrei nessa missão com outra intenção — queria que aquilo fizesse sentido de verdade.

Então ensinei como sabia. Deixei os alunos experimentarem, falharem e tentarem de novo, mesmo quando eu já sabia onde errariam. Costumava dizer: “Mostra como tu faz, depois te mostro o meu jeito.” Queria que desenvolvessem confiança pela prática, não pela correção.

Muitos passaram por aquelas aulas. Alguns seguiram na área. Um deles ficou mais próximo. Detestava a estrutura, precisava de silêncio e autonomia. Anos depois, se tornou alguém que me é familiar: reservado, obstinado, avesso a superficialidades, tentando resolver problemas com os recursos disponíveis. Gosto de pensar que tive alguma influência nisso.

Hoje tenho 53 anos. A insegurança ainda aparece. Provavelmente nunca vai sumir por completo. Mas entendi que estar presente — com atenção e disposição — importa mais do que se reconhece. Mesmo em silêncio. Mesmo sem resposta imediata.

Não sei se fui um bom professor. Tentei ser alguém que eu mesmo teria precisado.

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1 comentário
  • Andréa Anahí Moraes Ritter Responder

    Realmente pode acreditar que você foi um bom professor. Principalmente porque se preocupou em dar sentido ao que você ensinava aos alunos. Cada um aprende a sua maneira e promover o aprendizado e melhorar a vida dos alunos é a missão do professor.

Responder Andréa Anahí Moraes RitterMenu

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