Meus pares andam tristes

Faz um tempo que tenho percebido as pessoas com quem tenho mais afinidade meio tristes, com o sorriso cansado, o olhar baixo e os ombros meio curvados, como quem carrega o peso do mundo nas costas. Eu mesmo ando assim, eu sei.

Acontece que vivemos em um país em que a insanidade e o absurdo parecem ter virado a regra geral, o que faz com que essas pessoas, entre as quais me incluo, comecem a ter a sensação de que não são queridas em parte alguma por onde andem.

Motivos não faltam. Se não fossem suficientes os atos da política da morte e da destruição do governo federal ainda haveria os despautérios dos demais poderes, principalmente o Judiciário em que muita gente ainda tinha algum grau de confiança.

Contudo, o pior nem é não termos nenhuma instituição em quem confiar. O que realmente extermina o brilho dos olhos dos meus pares, que mata sorrisos e incinera esperanças é o fato de uma parcela imensa da sociedade preferir aceitar camponiamente culpar seus irmãos por toda a derrocada moral e intelectual que ficou evidenciada pela força do voto nas eleições majoritárias passadas.

O que destrói o nosso ânimo é que pessoas que considerávamos boas de coração, cultas e inteligentes acabam exibindo orgulhosas o ódio pelos menos favorecidos e o desprezo pelas minorias.

A normalização da truculência e da mentira, a parcialidade criminosa e o escárnio pelos mais vulneráveis gritam mais alto do que nossos ouvidos podem suportar. A falta de esperança no futuro sela o cansaço que muitos de nós sentem ante a simples tarefa de viver.

Não se enganem, contudo, aqueles que pensam que estamos vencidos. Nós sabemos que o remédio para o cansaço é o descanso, não a desistência. Nós sabemos que não lutamos apenas por nós mesmos, mas também por aqueles que ora nos odeiam. Nós sabemos que se as futuras gerações têm algum fio de esperança em que apegar-se, este fio somos nós.

Mais do que tudo, nós não vamos nos deixar vencer pela ignorância e pela estupidez pelo simples motivo de que, para nós, que estamos do lado certo da história, esta não é uma opção sequer a se considerar.

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1 comentário
  • Carol Mancini Responder

    Nós somos mais fortes, querido. Ainda que separados geograficamente mas unidos no pensamento, ideal e na inteligência, que é o que me parece faltar por aí. Vamos juntos, um apoiando o outro.

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