Top 10 Filmes Para Assistir no Fundo do Poço

Esse artigo foi escrito pela autora convidada Anna Ingrid Soares, do Caderno Insone.

Daí que depressão é depressão e não tem nada que preste na vida.

E já que  cinema é arte e a arte imita a vida, acontece de você topar com uns filmes por aí que são tão downers, que fazem a tua vida parecer comédia familiar ensolarada feito um comercial de margarina.

Segue aí uma listinha de filmes pra se ver no domingo de noite, depois do Fantástico, porque tão aí pra ensinar que nada no mundo é ruim o bastante.

10 – Casa de Areia e Névoa (House of Sand and Fog, 2003)

A Jennifer Connelly faz uma forever alone que foi largada pelo marido, tá desempregada, lisa, falida, alcoólatra em abstinência e que não abre a correspondência porque já sabe que a alegria não vem pelo correio, só contas e proposta de cartão de crédito vêm assim, e é só pra você se afundar ainda mais.

E o Ben Kingsley faz um militar do Irã que precisa se refugiar com sua família em outro país, e passa de respeitado a proletariado com um voo só.

Ele precisa ter dois subempregos pra manter a família e a vergonha é tanta que ele começa a viver de aparência.

Ela perde a casa. Ele compra a casa dela num leilão.

É um dos filmes mais tristes que eu já vi. Não tem pra onde você correr. É um desses filmes que querem te levar a pensar que toda história tem dois lados, mas a única lição que você tira é que fundo de poço tem porão e não adianta você estar com a razão.

9 – O óleo de Lorenzo (Lorenzo’s Oil (1992)

Quando você mistura no mesmo pacote história real + doença grave + Susan Sarandon, o resultado não podia ser feliz.

Daí esse aí mostra duas pessoas (os pais do Lorenzo) lutando com tudo o que podem e com o que não podem contra a doença do filho.

Daí você começa a chorar mais ou menos com quinze minutos de filme e termina mais ou menos uma semana depois que o filme acaba.

8 – …E o vento Levou (Gone with the Wind, 1939)

É a história de uma mulher burra (tá apaixonadinha por um cara que não quer nada com ela) e que não vê que o amor da vida dela é o marido.

E ainda tem a sorte maior do mundo do marido dela ser de longe o cara mais absurdamente maravilhoso de todos os personagens absurdamente maravilhosos de todos os tempos.

E ele a ama de todo o seu coração. Até que ele cansa de esperar coerência, cérebro, essas coisas.

É a prova cabal de que não é porque você ama alguém que você é obrigado, porque não é sempre que compensa, e que tudo na vida tem limite.

Principalmente o tanto que você tá disposto a levar de trombada de uma pessoa só.

7 – Bambi (Idem, 1942)

Mataram a mãe do Bambi. Eu nunca superei.

6 – A escolha de Sofia (Sophie’s Choice, 1982)

A mãe tá lá contando a história de vida triste dela e a escolha que ela teve que fazer pro vizinho dela.

Daí você assiste com a tua mãe e os teu irmãos. E o teu irmão tá deitado com a cabeça no colo dela. E aí você lembra que o teu 10 em química orgânica tá na tua pasta enquanto o 7,5 dele em desenho tá pregado na geladeira.

5 – As Pontes de Madison (The Bridges of Madison County, 1995)

Daí o fotógrafo tá lá na cidade e finalmente topa com tudo o que ele sempre quis na vida com a cara da Meryl Streep. E acontece dele ser tudo o que ela sempre quis na vida com o plus de ter a cara do Clint Eastwood.

Só que, como acontece muito na vida, a mulher da vida do fotógrafo é a esposa de um outro cara, que convenientemente tá viajando, mas vai voltar um dia.

Daí tem amor, tem lágrimas, tem o cara indo embora na chuva e uma dificuldade pra ler a legenda porque as lágrimas não ajudam na nitidez.

4 – A Rosa Púrpura do Cairo (The Purple Rose of Cairo, 1985)

A mulher é uma garçonete que vive sustentando o marido vagabundo que bate em mulher.

Ela vive sonhando com cinema e em como a vida do cinema é perfeita, e em como os personagens dos filmes são muito melhores do que as pessoas reais.

Daí, ela assiste tanto ao mesmo filme que o galã sai da tela e se apaixona por ela. E ele é perfeito do jeito que ela sempre sonhou. E ela não pensa em deixar o marido idiota por ele. Daí o personagem faltando no filme causa uma confusão e ela passa a ter que lidar com o personagem e o ator que o interpreta.

Como mulher romântica é burra, ela faz a escolha errada e se lasca, como na vida.

Quer dizer, de repente o homem da tua vida, vivo ou morto, real ou imaginário, ama você e tá disposto a te levar pra um mundo perfeito de rolo de filme. Qual é a dúvida?

3 – A Estrada (The Road, 1990)

Fim do mundo. Gente morta. Um frio de doer. Um cara anda com o filho. Aí um cara anda com o filho. Aí está frio. Aí tem muita gente morta. Aí o mundo tá acabado. E um cara anda com o filho. E faz frio. E eles tão com fome. E tem gente morta. E faz frio. Fome. Precisão. Um cara andando com o filho. E fome. E frio. E gente morta. E um cara anda com o filho. E fome. E frio. Um cara andando com o filho. E pós-apocalipse.

Não compensa sobreviver num mundo sem aquecedor, lojas de departamento, absorventes e antibióticos.

2 – Preciosa (Precious, 2009)

A Preciosa é uma adolescente obesa, estúpida, podre de preguiça e com um jeito meio Macabéa de ser que sofre abuso sexual pelo pai e já tá grávida dele pela segunda vez. A mãe sabe de tudo e não faz nada.

Quando ela acha que a vida dela finalmente vai engrenar, ela descobre que tem AIDS.

E tem a ironia fina dela se chamar Preciosa.

Tão downer que a até a Mariah Carey aparece no filme. Só não leva o número 1 porque ela não tá cantando “so take a look at me now!” e, sei lá, não é a Celine Dion.

1 – Meu Cachorro Skip (My Dog Skip, 2000)

Um menino forever alone ganha um cachorro. E o cachorro é ótimo. E é o melhor cachorro do mundo, e o cachorro é amigo de toda a cidade.

E aí o cachorro e o seu menino tem uma vida linda. Aí um dia uns pilantras batem no cachorro com uma pá e o cachorro quase morre. Aí o cachorro escapa porque o veterinário é bom. E então o menino e o cachorro seguem suas vidas até que o menino cresce.

E o menino vai para a faculdade. E o cachorro fica sozinho na casa, e o quarto do menino fica sendo o quarto do cachorro.

Um cachorro sem menino.

Aí o cachorro já nem tem mais força pra subir na cama do menino. E o cachorro morre. E três horas depois do filme acabar eu ainda tava soluçando agarrada com a minha gata com uma cara indiferente.

Anna Ingrid Soares é autora do blog Caderno Insone e nas horas vagas atua como advogada. Você pode segui-la no Twitter nesse link: @Anna_Ingrid.

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55 comentários
  • Luís Starke Responder

    Faltou Anticristo de Lars von Trier. Todos os cristãos deviam assistir esse filme

  • luis Responder

    Dois que fazem chorar até as pedras da calçada são, Control(que conta a história do vocalista dos joy division,o filme é 1000,mas se for visto num dia de deprê lascou),e outro Bright Star,que conta a história de amor entre o poeta John Keats e Fanny Brawne.

  • Ozzy Responder

    Adorei o texto, tá excelente, divertido e informativo.
    Parabéns.
    The Road é ótimo mesmo.

  • Rita Responder

    Faltou “A cor purpura”clássico desses filmes…

  • Srta. Bia Responder

    O filme mais deprê ever para mim é Biutiful, se bem que Preciosa tá logo atrás e faltou dizer que a mãe da Preciosa também abusa dela, ela sofre bullying no mobral e etc.
    Mas Biutiful é só fundo do poço. O cara tá na merda, sempre esteve, ele é o Chico Xavier miserável do México, que ganha dinheiro com seus poderes do Nosso Lar. Ele ama muito os filhos, mas só faz merda. A mulher dele transa com o irmão dele e metade da cidade. Ele descobre que está com câncer, ele passa a mijar sangue. Ele arruma um emprego onde explora um monte de chineses ferrados. Ele compra uns aquecedores porcaria e você sabe que vai dar merda. Só tristeza, só Javier Barden horroroso se afundando cada vez mais na merda.

  • Diniz Responder

    Concordo com tua classificação em escala depressiva para esses filmes, mas sei de pelo menos um que poderia desbancar o primeiro lugar da lista. É um desenho animado japonês, Grave of Fireflies, que conta a história de duas crianças no Japão da segunda guerra.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Hotaru_no_Haka

Responder RitaMenu

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