Tudo tem que misturar política?

Na semana passada, fiz uma viagem de avião. Ainda no aeroporto em Ribeirão Preto, notei um grupo de, possivelmente, empresários do setor agrícola agindo de forma inadequada no espaço comum. Deduzi que eles poderiam ser eleitores do onagro, pois seu comportamento lembrava o de vândalos.

Meus piores pressentimentos se concretizaram quando a corja se instalou nas mesmas fileiras de bancos que eu havia escolhido com semanas de antecedência. Empestearam o voo todo com “nóis foi nóis vai nóis vorta” entremeados com “fazuélis” jocosos a cada piada sem graça.

Quando o avião finalmente pousou, eles começaram a disseminar discursos religiosos, alternando com comentários sobre futebol e piadas homofóbicas e misóginas. Riam como hienas.

Quanto a mim, devo dizer que duas características são bastante presentes: eu não me envolvo em conversas sem ser convidado, mas também não consigo disfarçar quando algo me incomoda — minha expressão facial entrega de imediato. E talvez por causa dessa combinação de silêncio e cara de poucos amigos, um dos velhos repugnantes resolveu fazer um comentário sobre a minha aparência.

— E você, tão quieto, com essa barba parece o Lula. Tá tudo bem?

— Tudo jóia? — retruquei.

Não saberia eu agora descrever o tom de voz que posso ter usado, só sei que os “agro é top” ficaram visivelmente arreminados, acusando-me de ser das pessoas que “falam de política o tempo todo” — sendo que eu falei apenas duas palavras.